Vice-presidente do BEI: “Temos grandes expectativas” para o banco de fomento

Portugal poderá vir a ter soluções idênticas às que foram desenvolvidas com a Cassa Depositi e Prestiti, em Itália e com o ICO em Espanha para ajudar a recapitalizar as PME.

O Banco Europeu de Investimento (BEI) está a desenvolver instrumentos de titularização para reanimar este mercado a nível europeu, mas também produtos de equity para recapitalizar, com a instituição financeira de Desenvolvimento (IFD), vulgarmente conhecida como banco de fomento. “Estamos a desenvolver instrumentos desenhados à medida”, revelou em entrevista ao ECO, o vice-presidente do BEI.

Portugal poderá vir a ter soluções idênticas àquelas que foram desenvolvidas com a Cassa Depositi e Prestiti, em Itália e com o ICO em Espanha.

Román Escolano explica que o objetivo é ajudar a resolver o problema de recapitalização das empresas em Portugal afetadas pela crise. O executivo já anunciou que a IFD vai ser chamada a entrar, numa fase posterior, na plataforma de gestão do malparado que visa promover os processos de recomposição ou consolidação empresarial, na medida necessária para assegurar a viabilidade ou robustez dos devedores.

Escolano promete para breve novidades sobre o banco de fomento e garante que “Portugal está a fazer um bom uso do potencial do banco e do Plano Juncker”. O vice-presidente do BEI revela que o banco já está a trabalhar com Portugal em níveis pré-crise, que o pipeline de projetos está cheio e que as “equipas estão a trabalhar intensamente”. “Estamos em setembro, tanto quanto sabemos este ano vamos atingir o nível do ano passado ou mais”, garante.

Quanto ao movimento de concentração de bancos em Portugal, o responsável garante que ainda não acabou — o movimento é pan-europeu — e não está preocupado com as consequências em termos de concessão de crédito às PME. “Desde que a concorrência seja mantida e os bancos estejam bem capitalizados, não vejo que a consolidação seja um obstáculo para a concessão de crédito às PME”, afirma.

Portugal está a aproveitar ao máximo as oportunidades e as vantagens que o BEI oferece?

No ano passado celebrámos o 40.º aniversário das atividades do BEI em Portugal. É uma boa altura para ter uma boa perspetiva destes tempos. Neste período de 40 anos financiámos quase 45 mil milhões em projetos, o que é um montante muito significativo. Muitos projetos-chave da economia portuguesa foram financiados ao longo destes anos pelo BEI. O período da crise financeira teve evidentemente um efeito no financiamento da economia portuguesa. O banco, durante alguns meses, teve uma relação difícil com Portugal, Espanha e com outros países por causa da crise financeira. Todos recordamos que a crise teve um grande impacto nas atividades e na economia do país — os níveis de investimento desceram e foram anos difíceis para Portugal. Mas é algo que claramente já foi ultrapassado. Este é um momento diferente, em termos de retoma da economia portuguesa. A retoma do investimento é clara. As equipas estão a trabalhar intensamente, estão muito ativas.

A crise ficou para trás.

Claramente, nos últimos três anos, estamos a deixar esse período para trás. Houve uma clara retoma da atividade do banco. E há dois anos já atingimos os níveis pré-crise e estamos a ir mais além. O ano passado foi muito bom por diversas razões: tanto ao nível das atividades tradicionais, como das novas atividades no âmbito do Plano Juncker, o Banco Europeu de Investimento concedeu quase 1,5 mil milhões de euros em empréstimos, o que representa uma clara retoma face ao ano anterior. Por isso, sim, diria que Portugal está ativo, quer em termos absolutos quer relativos, face aos anos da crise e ainda em termos comparativos. A quantidade de financiamento que o BEI fornece a Portugal, em percentagem do PIB, é um pouco menos de 1% do PIB. É um número relevante, o que coloca Portugal no topo em termos relativos. Portugal está a fazer um bom uso do potencial do banco e do Plano Juncker.

Há muitos projetos a tentar entrar no pipeline?

Neste momento o pipeline está cheio. Normalmente não falamos publicamente das operações até estarem aprovadas, e assinadas, em especial quando estamos a lidar com clientes privados que pedem discrição, não só a este banco, mas a qualquer outro. Além disso, cofinanciámos operações. Nunca financiamos a 100%. Por isso, cada vez que estamos a entrar num projeto há, por exemplo, 50% de outros financiadores, normalmente bancos. É nossa política não revelar o nosso pipeline. Mas claramente estamos otimistas. Estamos em setembro e, tanto quanto sabemos, este ano vamos atingir o nível do ano passado ou mais, por isso será um bom ano para as atividades do banco. E, quanto ao remanescente do ano, estou otimista.

A procura é sobretudo do setor privado ou público?

Tradicionalmente, a procura do BEI é mais do setor privado. É isso que queremos fazer. Em termos gerais, não estou a falar de Portugal, tendemos a trabalhar cada vez mais com o setor privado. É esse o nosso objetivo, catalisar os investimentos privados através da utilização da robustez do nosso balanço. No caso de Portugal, aliás, tenderia a dizer do sul da Europa, dois terços da nossa atividade, ou mais, consiste em empréstimos às PME, porque os nossos países são de pequenas empresas. Talvez no centro e norte da Europa haja mais empresas médias, algumas até bastante fortes. Estas são coisas que normalmente fazemos através do sistema bancário. Estas são operações do setor privado. Em Portugal trabalhamos com praticamente todos os bancos.

O ano passado, foram 1,48 mil milhões de financiamento total do BEI e destes, 1,1 mil milhões são operações que fazemos através dos bancos. Por isso o maior bolo é setor privado.

Román Escolano

Vice-presidente do BEI

O BEI está a regressar aos níveis pré-crise em Portugal. Há instrumentos financeiros que poderiam incentivar ainda mais essa atividade?

Face ao período pré-crise, temos um maior conjunto de produtos que podemos oferecer no mercado português devido ao Plano Juncker. À boleia do Plano Juncker podemos oferecer diferentes tipos de produtos face ao que oferecíamos antes da crise. Ao longo destes 40 anos financiávamos, essencialmente, grandes projetos de infraestruturas, que são naturalmente úteis. Estivemos na ponte Vasco da Gama, na modernização do sistema de estradas, que é evidente para todos, e neste tipo de empréstimos para infraestruturas. Agora, graças ao Plano Juncker, temos um leque de produtos mais vasto que permite ter operações com novos clientes — temos muitos novos clientes – nomeadamente de média dimensão. Por exemplo, tivemos alguns casos na indústria farmacêutica, que teriam sido difíceis ao banco fazer antes. Agora, com a economia a recuperar, temos boas hipóteses de aumentar a nossa atividade graças a este novo potencial do Plano Juncker.

As pessoas não percebem o Plano Juncker nem a diferença entre recorrer ao Plano ou simplesmente ao BEI?

Não se pode culpar as pessoas por terem essas dúvidas. Por vezes pode ser difícil de explicar, mas é culpa nossa não estarmos a explicar bem. Essencialmente, o Plano Juncker é uma forma de facilitar o financiamento do Grupo BEI através da concessão de uma garantia ao nosso portfólio que estamos a criar. E nestas operações podemos alargar o alcance, a dimensão da economia, o tipo de operação, podemos levar a cabo operações que de outra forma teriam sido impossíveis para nós. Não são duas janelas diferentes. Quer uma operação seja financiada por nós através dos canais tradicionais ou das novas, é exatamente o mesmo canal. Encorajo todos os vossos leitores a não se deixarem confundir por estas novas possibilidades que são bastantes simples. Mas antes contactar as equipas do BEI, que podem oferecer um vasto leque de produtos, quer sejam ao abrigo do Plano Juncker ou não. É algo que vamos estruturar com o cliente à medida que conversamos com ele.

O Plano Juncker tornou as empresas mais conscientes do BEI?

Creio que seja esse o caso. O BEI, em conjunto com a Comissão Europeia, tem organizado um vasto leque de eventos para explicar aos empresários, às associações empresariais ou às câmaras de comércio quais são as possibilidades. Cobrimos muitas cidades portuguesas de pequena ou média dimensão, fomos desde o norte às ilhas, lembro-me que há alguns meses foi em Guimarães, assim como no sul. O Plano Juncker não só criou mais consciencialização e familiaridade com o banco para estas novas operações como também para as tradicionais. Relativamente a isto creio que o banco é agora mais conhecido, mas ainda temos muito trabalho a fazer e, por isso, acredito que todas as explicações são necessárias.

Em termos gerais o banco não financia diretamente operações inferiores a 50 milhões de euros. Há exceções, claro. Mas Portugal tem promotores com dimensão para aceder diretamente ao banco? Qual a alternativa além da banca comercial?

Essa é uma questão à qual temos de responder regularmente. De sublinhar que a fasquia de 50 milhões por projeto significa que, como financiamos 50%, estamos a falar de 25 milhões. Esta é a fasquia normal e tradicional. Isto porque não somos bancos comerciais e não podemos substituir a rede comercial dos bancos locais. É preciso não esquecer que temos de trabalhar em 28 Estados membros ao mesmo tempo e não podemos ter uma rede de retalho em cada Estado membro. Não é esse o nosso papel e não queremos fazer concorrência desleal aos bancos comerciais. Trabalhamos com eles ou através deles.

Normalmente as PME terão acesso ao potencial de financiamento do BEI e do Plano Juncker, mas através dos bancos. Por isso, podem ir a uma agência de um banco comercial – CGD, NB, BPI, Caixa de Crédito Agrícola, Millennium bcp, Montepio e outros – por isso todos os empresários de PME podem ir a um banco e perguntar se tem acesso a estas possibilidades de financiamento. É assim que trabalhamos. É algo especial? Sim é. Assinámos com alguns destes bancos um empréstimo especial no ano passado, por ocasião do 40º aniversário das atividades do BEI em Portugal, através do qual assumem operações com startups e empresas de maior nível de risco. Podem ir ao banco e perguntar pela possibilidade de um novo financiamento. Todas as empresas portuguesas, seja qual for a dimensão da sua operação, meio milhão ou um milhão — que pode ser significativo para uma PME –, podem ir ao banco e saber das possibilidades de acesso a este financiamento do BEI. Dito isto, referiu que há exceções. De facto há. Por exemplo, há duas semanas assinámos uma operação com a universidade Nova que é de 16 milhões de euros.

Porquê?

Porque apesar de ser mais pequena pensamos que é uma iniciativa particularmente importante porque tem a ver com educação, uma importante prioridade para nós.

Foi a Universidade Nova que vos abordou?

Creio que sim. Estamos a expandir. Mas, mais uma vez, trabalhamos com 28 Estados membro, temos de ter uma política para todos eles, trabalhamos cada vez mais com universidades. A tradição do BEI não é trabalhar apenas com infraestruturas físicas. Estas são importantes, mas é cada vez mais o capital humano, educação, inovação, etc.. Estamos a ter uma onda muito interessante de financiamento do ensino superior e, em Portugal, tivemos esta operação com a Nova que creio ser interessante. Posso dizer-lhe que não será a última relativamente à educação, mas também tivemos uma em França, recentemente em Itália. O ensino superior, em especial a educação inovadora para os estudantes, é uma das áreas chave para as quais estamos a desenvolver novas atividades. É por isso que decidimos financiar o novo campus da Nova.

Estamos a ter uma onda muito interessante de financiamento do ensino superior e em Portugal tivemos esta operação com a Nova que creio ser interessante. Posso dizer-lhe que não será a última relativamente à educação.

Román Escolano

Vice-presidente do BEI

Quer isso dizer que foi abordado por outras universidades?

Não fazemos comentários sobre o nosso pipeline até assinarmos as operações.

Mas por vezes anunciam que estão avaliar a operação…

Mas isso é algo que se discute com o cliente. Normalmente não fazemos comentários sobre o nosso pipeline.

O eurodeputado José Manuel Fernandes sugeriu que se deveriam criar plataformas para agregar os projetos mais pequenos para assim poderem aceder diretamente ao BEI. É fazível?

Em primeiro lugar, é preciso não esquecer que as empresas individuais podem ter acesso através da banca comercial. Isso deve ser ficar muito claro. O acesso ao Plano Juncker é feito com condições especiais porque temos um financiamento especial para este tipo de operações. Assim, já podem ter acesso. Dito isto, qualquer ideia que sirva como agregador, ou plataforma que junte projetos relativamente similares de PME ou de economias de média dimensão é sempre uma boa ideia. Uma das partes interessantes do Plano Juncker era precisamente criar plataformas. Em muitos países já temos algumas destas plataformas que estão a funcionar. Normalmente é necessário que alguém funcione como agregador, que junte estas pessoas. E, muito frequentemente, são os bancos de desenvolvimento nacionais — o equivalente nacional do BEI, ou seja, o KfW na Alemanha, o ICO em Espanha, mas que nem sempre são bancos — que funcionam como agregador destas iniciativas e que são os promotores destas plataformas. E já temos algumas experiências bastante interessantes. Em muitos casos temos um parceiro e normalmente são muito úteis a agregar estas plataformas.

No caso português tem a IFD.

A IFD é claramente uma instituição para a qual temos grandes expectativas e que temos seguido com particular atenção desde o início da sua criação. Tivemos contactos muito bons com as equipas. Temos uma operação muito concreta que estamos a negociar com eles. Muito em breve haverá notícias.

“No passado, houve problemas por causa da crise financeira, problemas com as autoridades da Concorrência, mas isso agora acabou e agora estamos ansiosos por desenvolver as nossas atividades com a IFD”, diz Román Escolano, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento.Mireia Gonzalez Torrijos/EIB

Qual é o ponto de situação dessa operação?

Algumas estão bem avançadas, outras são novas, outras são no contexto de iniciativas europeias que estamos a desenvolver. É preciso não esquecer que no BEI trabalhamos a partir da rede de bancos de desenvolvimento, não apenas com um, mas com todos. E nesta rede há operações bastante interessantes. Uma é uma iniciativa europeia de titularização para recuperar o mercado de titularização. No BEI trabalhamos com cerca de 20 bancos de desenvolvimento, a IFD faz parte da rede. A titularização é uma. Outra é para desenvolver produtos de equity para recapitalizar, porque um dos problemas em Portugal é, claramente, recuperar as PME afetadas pela crise. Dar-lhes mais capital é chave, mas certamente não apenas em Portugal. Para isto estamos a desenvolver instrumentos desenhados à medida. E, claro, há sempre a questão do crédito. Estamos sempre prontos a financiar estas empresas nos Estados membros e dar-lhes financiamento a longo prazo com boas condições. É isso que fazemos normalmente. Fazemos isso em Itália, França, Espanha e certamente, a partir de agora, também em Portugal. O desenvolvimento de uma instituição que tem a nível nacional uma política próxima da nossa é uma ferramenta muito importante e insisto sempre com as autoridades portuguesas – o Governo, os deputados, o Banco de Portugal – que, para nós, é muito útil ter uma instituição como a IFD. No passado, houve problemas por causa da crise financeira, problemas com as autoridades da Concorrência, mas isso agora acabou e estamos ansiosos por desenvolver as nossas atividades com a IFD.

A titularização é uma. Outra é para desenvolver produtos de equity para recapitalizar, porque um dos problemas em Portugal é, claramente, recuperar as PME afetadas pela crise. Dar-lhes mais capital é chave, mas certamente não apenas em Portugal. Para isto estamos a desenvolver instrumentos desenhados à medida.

Román Escolano

Vice-presidente do BEI

Como vão funcionar estes produtos de titularização e de capital?

Ainda estão a ser desenhados, por isso não gostaria de comentar…

O que vai diferenciá-los face ao que já existe no mercado?

Temos o peso e a força do BEI e a garantia que temos do Plano Juncker para financiar esta nova iniciativa. O que estamos a fazer aqui em termos de volume e de alcance é bastante diferente de tudo o que já foi feito no passado. Com a Cassa Depositi e Prestiti, em Itália, e com o ICO, em Espanha, já tivemos desenvolvimentos muito interessantes em termos de plataformas de equity que foram desenvolvidas connosco e penso que isto também pode ser replicado. Não ficaria surpreendido se pudéssemos desenvolver iniciativas semelhantes em Portugal nos próximos meses.

A criação de uma plataforma para o malparado em Portugal e o envolvimento da IFD estão relacionados com o desenvolvimento desses produtos que refere?

Sim, mas não está relacionada com nada que tenha a ver com NPL dos bancos, nesta fase, ou com um bad bank. Está fora do alcance do que estamos a fazer agora. O que queremos é desenvolver o mercado de equity, ao levar a cabo em Portugal uma iniciativa semelhante ao que já estamos a fazer noutros Estados membros, para financiar em boas condições os empréstimos às PME, dar através de uma garantia algum tipo de proteção ao mercado de titularização. É essa a iniciativa que temos em mente. Não estamos a considerar outras iniciativas que tenham a ver mais com o papel de supervisão ou reestruturação dos bancos. O que estamos a tentar fazer é fornecer ao mercado português produtos que já funcionam bem noutros mercados.

Mas podem ser usados para resolver o problema dos NPL?

Isso pode ser resolvido através de uma maior concessão de crédito à economia real e desta forma, numa economia em crescimento e com um fluxo de crédito em crescimento, e bancos capitalizados, o problema dos NPL será facilmente gerível. Mas não estamos a tentar substituir o que tem de ser feito pelos supervisores. O que estamos a tentar fazer é dar financiamento para equity e para empréstimos em boas condições. É isso que estamos a tentar desenvolver com a IFD nos próximos meses.

É agora que a IFD vai disparar?

Temos mantido um contacto estreito com eles, temos uma agenda ambiciosa e estamos prontos a apoiar qualquer decisão que venha a ser tomada pelo Governo português e pela IFD. Não nos cabe a nós decidir. O Governo decidirá livremente como lidar com o problema. Do nosso lado, aqui no Luxemburgo, podemos dizer que seja qual for a direção da estratégia da IFD, estamos prontos para a apoiar.

Ainda é necessário prosseguir com a reestruturação dos bancos de modo a que injetem mais dinheiro na economia, ou considera que esse trabalho está feito?

Dividiria a questão em dois: se o trabalho está feito em Portugal e se está feito na Europa. Em Portugal muitas coisas foram feitas. Sentimos que os bancos estão claramente ativos, são bons parceiros, os seus ratings e o da República foram recentemente revistos em alta, o que demonstra confiança no setor bancário ao longo do tempo, e todos sabem que foram feitos muitos esforços nos últimos anos e isso reflete-se na atitude que têm para connosco. Contudo, considero que os bancos em toda a Europa ainda têm um caminho a fazer. Há o impacto da tecnologia, que está a mudar completamente o modelo de negócio dos bancos. Em muitos países, em dez anos os bancos não serão o mesmo de agora. Estamos a assistir a um processo muito intenso de desenvolvimento da união bancária europeia, porque, em dez a 15 anos, vamos ver um setor bancário europeu cada vez mais integrado. A regulamentação ainda está a mudar. Se juntarmos tudo, creio que a paisagem bancária vai ter de mudar e não apenas em Portugal, mas em todos os países.

Há um excesso de regulamentação na banca, que parece mais preocupada em cumprir os critérios que lhe são impostos do que em injetar dinheiro na economia?

Se olharmos em perspetiva, a quantidade de nova regulamentação imposta nos últimos dez anos é enorme. É verdade que a maior parte dos gestores dos bancos passam muito tempo com o cumprimento das alterações das exigências regulatórias do que com a estratégia do negócio. Dito isto, também é bem verdade que depois da crise financeira a exigência social, que tem de ser compreendida, é de que este tipo de crise não pode acontecer novamente. Os bancos têm de estar mais bem capitalizados, têm de ser mais fortes, a supervisão tem de ser mais apertada. Nesse sentido tem sido um processo difícil, que ainda não está concluído. A digestão da regulamentação ainda é um processo em curso. Olhando para trás, vemos que os efeitos já se fazem sentir: os bancos estão mais bem capitalizados, têm almofadas de capital maiores, estão mais fortes caso a alavancagem tenha de diminuir, ou seja, foi um processo difícil e desafiante, mas importante. Ainda vai manter-se durante mais algum tempo e os gestores de bancos ainda vão ter de dedicar algum tempo a estas questões.

Depois da crise financeira a exigência social, que tem de ser compreendida, é de que este tipo de crise não pode acontecer novamente. Os bancos têm de estar mais bem capitalizados, têm de ser mais fortes, a supervisão tem de ser mais apertada.

Román Escolano

Vice-presidente do BEI

Em Portugal, este processo de reestruturação resultou na concentração e compra de várias instituições que agora estão quase todas nas mãos de estrangeiros. Isso pode ser um problema tendo em conta que a economia é composta essencialmente por PME?

Não creio que haja qualquer relação entre a consolidação dos bancos ou a natureza do domicílio. Estamos apenas a ver o início do processo de integração do setor bancário europeu e o que é importante para os reguladores e para os supervisores a nível nacional ou europeu é garantir que o mercado é competitivo. Isso tem de ser muito claro. O mercado em todos Estados membros tem de permanecer competitivo, assim como a oferta de crédito à economia real em países que dependem muito dos bancos como Portugal, Espanha Itália, etc.. Tem de ser claro que tem de haver um mercado acessível e competitivo para as PME.

“Tem de haver um mercado acessível e competitivo para as PME”, frisou Román Escolano, vice-presidente do Banco Europeu de InvestimentoMireia Gonzalez Torrijos/EIB

Dito isto, a consolidação europeia é algo que poderá acontecer, já está a acontecer em Portugal, mas também vai acontecer em muitos outros países e tenho a certeza que, dentro de dez anos, veremos um mercado pan-europeu mais integrado e consolidado e maior com instituições transfronteiriças e pan-europeias. É um fenómeno natural, desde que a concorrência seja mantida e os bancos estejam bem capitalizados. Não vejo que a consolidação seja um obstáculo para a concessão de crédito às PME.

Não vejo que a consolidação seja um obstáculo para a concessão de crédito às PME.

Román Escolano

Vice-presidente do BEI

Vejamos um exemplo. Santander comprou o Popular em Portugal, o Caixabank ficou com o BPI. Acredita que um banco espanhol terá a mesma sensibilidade para avaliar as idiossincrasias das PME portuguesas? Não vai preferir financiar as espanholas?

Não gosto de falar de exemplos em particular. Todos são clientes do BEI. Mas, em termos genéricos, os bancos em Portugal têm uma vasta tradição de banca de retalho, uma relação bancária muito desenvolvida. No caso que mencionou e outros que pode ter em mente, que são exemplos de consolidação transfronteiriça, as empresas-mãe são bancos comerciais extremamente respeitados, sabem que a forma de abordar os clientes é respeitar essas idiossincrasias, e não uma política comercial igual para todos. Pode ter mencionado um ou dois exemplos, mas isto não acontece apenas em Portugal: o movimento envolve bancos do Brasil, México, Reino Unido. Têm sucesso precisamente porque demonstram que sabem adaptar-se às circunstâncias locais. Diria que são uma espécie de multilocal. Em vez de instituições globais com uma abordagem Starbucks, mas antes bancos multilocal. Creio que este é o caminho para a banca de retalho. Os bancos de investimento podem ter um modelo de negócio mais linear e integrado, mas a banca comercial tem de se adaptar às circunstâncias locais caso contrário perdem vantagem competitiva face aos concorrentes.

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