Patrick Monteiro de Barros: “PT, uma grande senhora maltratada”

  • ECO
  • 6 Maio 2017

A vida do empresário e velejador Patrick Monteiro deu um livro, "Uma vida à bolina". O ECO faz a pré-publicação do capítulo sobre a entrada e saída do capital da PT.

Patrick Monteiro de Barros foi um acionista de referência da Portugal Telecom num período conturbado da vida da companhia, entrou em janeiro de 2002 e saiu depois da subida ao poder de José Sócrates, em junho de 2006, zangado com o governo e desiludido com o país. Na biografia “Uma vida à bolina”, assinada pelo jornalista Jorge Almeida, o empresário revela os bastidores de notícias já conhecidas, mas sobretudo uma história de promiscuidade e de virtudes públicas e (muitos) vícios privados numa das grandes empresas portuguesas. “A morte de uma grande senhora” é, aliás, o subtítulo dado às últimas frases do capítulo “PT, Uma grande senhora maltratada”.

Uma Vida à bolina. Uma biografia autorizada de Patrick Monteiro de Barros, assinada pelo jornalista Jorge Almeida. Edição Dom Quixote/Leya.

O empresário conta nesta biografia – editada pela Dom Quixote/Leya – os choques sucessivos desde o primeiro momento em que entrou no capital da Portugal Telecom com os sucessivos governos e ministros com a tutela das telecomunicações por causa das intervenções políticas, das nomeações, de jobs for the boys, das divergências com Ricardo Salgado e dos confrontos e discussões ríspidas com a gestão, das lutas com os reguladores e da reação hostil à OPA da Sonae. Sempre independente de grupos, os vários que denuncia no livro “Uma vida à bolina”, por causa da paixão pelo mar, Patrick esteve permanentemente em divergência, e foi assim que saiu. Comecemos pelo (quase) fim.

  • “O mercado financeiro estremece. Logo após o fecho da bolsa, a Sonae anuncia que lança uma OPA sobre a PT a 9,5 euros. Indiscutivelmente, uma jogada de mestre. Houve quem ganhasse ou perdesse muito dinheiro e a OPA tornou-se muito mais atractiva com a queda das acções nos últimos dias. No dia 7 de Fevereiro, Ernâni Lopes convoca um conselho de administração (CA) extraordinário para analisar a OPA. O chairman informa ter recebido um telefonema do ministro Mário Lino recomendando que não considerasse a OPA como hostil e que não desencadeasse uma guerra com a Sonae.

    O chairman apoiado, por Viana-Batista e Blanco de Morais, propõe um comunicado de resposta. Mais uma vez muito soft na opinião de Patrick que reage já preparado para o confronto: — O preço é ridículo e a OPA é hostil! Vamos para a guerra! Depois de várias horas de discussão, Ernâni Lopes pede pela primeira vez uma votação que aprova por maioria o texto proposto (Henrique Granadeiro, Joaquim Goes, Luís Champalimaud, Paulo Fernandes, Miguel Horta e Costa e ele votam contra), mas quando Zeinal Bava admite que dias antes da OPA esteve no Porto reunido com Paulo de Azevedo, o patrão da Sonae, Horta e Costa decide alterar o texto e qualifica a OPA de hostil. As acções da PT cotam 9,7 euros no fim do dia.Uns anos mais tarde, veio a público com a investigação criminal «Marquês» ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, que dois meses antes ele estivera reunido com Paulo de Azevedo e tinha conversado sobre a OPA. Na manhã seguinte, Horta e Costa recebe um telefonema do ministro, furioso por ele ter alterado o texto que estava aprovado e que tinha, segundo ele, a bênção do Governo. Pede uma reunião de urgência com o ministro Mário Lino, negada devido a problemas de agenda. (…)Correm notícias que Patrick estaria a preparar uma contra-OPA com a colaboração de Juan Villalonga, ex-presidente da Telefónica. A informação tem algo de verdadeiro, pois é contactado por vários megafundos entre os quais, o KKR e o Blackstone. Também recebe um telefonema de Ricardo Salgado que se oferece para participar parcialmente no financiamento de uma contra-OPA se ele resolver avançar.Patrick reúne com os seus consultores e chegam à conclusão que o Governo estava a par das intenções da Sonae e está de acordo com a OPA. Portanto, uma contra OPA só pode ter interesse se se conseguir alterar profundamente a golden share, ou mesmo eliminá-la. Entretanto, o Governo pediu e obteve de Bruxelas um prazo de seis meses para eliminar a golden share, que será renovada outra vez.

    O momento é de grande tensão e a troca de informações é constante. Ricardo Salgado liga-lhe e informa-o que o Governo quer propor uma lista única em que Granadeiro seja o chairman e o CEO da PT. Ele [Patrick Monteiro de Barros] responde que não está de acordo e que também não aceita a nomeação de Rui Pedro Soares. Defende que, em primeiro lugar, não faz sentido mudar o elenco no meio da OPA; em segundo, tem que haver uma alteração da golden share; e terceiro, a PT necessita de um CEO que seja um grande conhecedor do sector e que tenha uma experiência de gestão de uma multinacional, e o próprio Granadeiro afirmou que não tem o perfil para CEO. Pensa no entanto que Henrique Granadeiro poderia ser o chairman, já que Horta e Costa não é aceite pelo Governo de Sócrates.

    Mais uma vez está provado que um acordo com estes Governos não vale! Não são pessoas de bem!

    Patrick Monteiro de Barros

    Numa reunião com a secretária de Estado das Obras Públicas, Ana Paula Vitorino, sobre as questões ligadas ao acesso a Sines para a refinaria Vasco da Gama, é chamado no final para o gabinete do ministro Mário Lino. O ministro mostra-se pouco à vontade e comunica-lhe que pretende convocar uma reunião com os accionistas de referência e acertar por consenso uma lista única para o CA e para a Comissão Executiva.

    Pergunta ao ministro se recebeu a sua carta sobre as declarações de António Lobo Xavier, este responde-lhe que sim, mas pensa que o assunto é da competência da CMVM (…). Quanto à lista, defende que na sua opinião não se deve mudar o Conselho com a OPA em curso e não admite a nomeação «do tal Rui Pedro Soares», o que deixa o ministro incomodado. No dia seguinte, viaja para as Caraíbas e embarca no Seljm. O encontro com o mar sempre lhe trouxe a serenidade e a lucidez, mesmo quando os ventos não sopram a favor.

    A 7 de Março, Ricardo Salgado liga-lhe indicando que no dia seguinte realiza-se uma reunião dos accionistas privados com o ministro para aprovar a lista única que vai ser proposta na próxima Assembleia-Geral. A lista tem agora Henrique Granadeiro como chairman, Zeinal Bava como CEO e Pacheco de Melo como CFO. Os outros são Ricardo Costa, João Pedro Baptista, o protegido de Sócrates, Rui Pedro Soares e António Caria, que não conhece. (…) Informa Salgado que não pode estar na reunião, não concorda com a mesma e não fará parte do elenco, tendo decidido nomear o seu advogado, Henrique Chaves, para o seu lugar. Salgado pensa que tal será pacífico e pergunta-lhe se vai manter-se como accionista da PT: — Não sei, vamos lá ver! — responde laconicamente.

Patrick Monteiro de Barros acabou mesmo por sair, com estrondo. “Patrick [Monteiro de Barros] e Luís Champalimaud, depois destas declarações [de José Sócrates], chegam à conclusão «que mais uma vez está provado que um acordo com estes Governos não vale! Não são pessoas de bem!»

É depois disto, da Assembleia geral da PT, que em junho de 2006, o empresário decide desinvestir de Portugal, vende a sua posição [na Portugal Telecom] detida pela holding Telexpress e realiza uma mais.valia razoável.

Regressemos, então, ao início da aventura na PT. Como é revelado neste livro de Jorge Almeida, tudo começou em outubro de 2001, “numa caçada às perdizes em Espanha”. “Patrick ouve uma conversa em que dois banqueiros falam sobre a Portugal Telecom, cuja última fase de privatização acabava de ser concluída. Os dois homens da alta finança estavam convencidos que a companhia portuguesa de comunicações tinha um grande potencial, tanto mais que a Telefónica já detinha uma participação superior a 10% e uma joint venture no Brasil no sector dos telemóveis com a Vivo”. A conversa despertou o interesse de Patrick, que acabou por se materializar com a compra de ações da PT, num momento em que a empresa tinha como chairman e presidente executivo Murteira Nabo e, depois da última fase de privatização, com o BES, o BPI, a Telefónica, o Bradesco, a Lusomundo e a CGD.

  • “Até à fase final da sua privatização, a PT era a empresa pública mais apetecida, tanto pelos «grandes gestores generalistas» do país, como pelos apparatchiks políticos que ambicionavam um «supertacho». Os jornais passavam diariamente os recados dos «candidatos», entre os quais se destacavam os engenheiros Talone, Todo Bom e Ferreira do Amaral. Era a vez do PSD arranjar jobs for the boys depois do PS ter perdido as eleições autárquicas em Dezembro de 2001 e o primeiro-ministro, António Guterres, ter pedido a demissão para evitar que o país caísse num «pântano político» segundo as suas próprias palavras. O seu nome não era bem visto na cúpula do PS desde a sua guerra com Pina Moura na privatização da Galp e com o recente caso da Penha Longa.

    No final de Janeiro de 2002, o Expresso avançava com a notícia: «Monteiro de Barros entra no capital da PT.» Em subtítulo, o semanário escrevia: «Com um investimento de 200 milhões de euros, Monteiro de Barros tem 2% da PT.» Apenas três dias depois, a 29 de Janeiro, o Diário Económico trazia em manchete: «PT sobe 4% com entrada de Patrick Monteiro de Barros.» As acções tinham subido na Bolsa de Lisboa para 9,09 euros. Na medida em que pretende aceder ao CA da PT, antes da sua cooptação para o Conselho de Administração, Patrick tem uma reunião cordial com o chairman e CEO da empresa. O chairman, Francisco Murteira Nabo, insiste numa separação entre a gestão e o poder accionista e defende que, mesmo privatizada, a PT é uma empresa estratégica para Portugal o que justifica a golden share.

    Apesar de estar de acordo com a posição do Estado, considera que deve ser apenas um instrumento estratégico de defesa nacional à semelhança do que acontece em Espanha e França, mas não de um meio de gestão. Tudo indica que não há oposição na sua cooptação para o CA. Murteira Nabo é um homem com uma larga experiência e teve um papel relevante nas negociações com a Telefónica sobre a joint venture no Brasil com a Vivo no sector das comunicações móveis; obtivera a paridade accionista e a nomeação do CEO. A 2 de Abril de 2002 é eleito para o Conselho de Administração da Portugal Telecom. O chairman continua a ser Murteira Nabo e Miguel Horta e Costa assume a presidência da Comissão Executiva, eleita a 28 de Maio. Os restantes membros são: Iriate Esteves, Zeinal Bava, Luís Vasconcelos e Cruz e Paulo Fernandes. As acções da PT estavam cotadas então em 8,5 euros. Na sua primeira intervenção no CA recorda os dez mandamentos que sempre nortearam a sua vida profissional, desde os tempos da universidade Manuel Bulhosa:

  1. A Empresa pertence aos accionistas.
  2. O Conselho de Administração responde perante os accionistas.
  3. A Comissão Executiva responde perante o Conselho de Administração apenas por delegação de poderes.
  4. Os gestores trabalham para a empresa mas não são donos dela.
  5. Objectivos permanentes da gestão: aumento do valor accionista depois de remunerar os trabalhadores adequadamente, inclusive por participação nos resultados.
  6. A gestão deve ser criteriosa e sempre virada para a alta rentabilidade dos capitais usados.
  7. A gestão deve ser criteriosa e poupada, não havendo lugar a gastos supérfluos ou desnecessários.
  8. A gestão deve ser totalmente transparente e deve responder a todo o momento pelos seus actos.
  9. Se houver que tomar medidas difíceis, o exemplo vem de cima.
  10. O negócio, os clientes e os trabalhadores são os principais activos da empresa.E termina dizendo: — Se algum dos senhores tem dúvidas é melhor falar agora. O administrador não executivo, Victor Pereira Dias, um homem próximo do PS, faz um aparte: — Isto vai dar samba! A intervenção dele merece o apoio dos accionistas privados, mas não deixa de causar alguma perplexidade nos representantes do Estado, com excepção de Jorge Tomé, da Caixa Geral de Depósitos, que o felicita no fim da reunião. Os administradores executivos ficam com o claro sentido de que nada ficará como antes na forma de gerir a PT e têm que responder com responsabilidade e transparência perante o Conselho de Administração.

A Portugal Telecom tinha um acionista com um perfil como nunca tinha tido. E com uma avaliação crítica do que era a empresa à data: “Numa primeira análise percebe que a empresa tem enormes problemas de gestão nos vários negócios. A rede fixa, o móvel, a multimédia e o cabo, são geridos como se fossem empresas independentes, onde cada responsável só se preocupa com a sua «coutada», o que dera lugar a uma multiplicação de serviços e funções”.

“Nem tudo é negativo. A TMN, pioneira do telemóvel, mantém-se em primeiro lugar com 45% do mercado seguida pela Vodafone com 38% e pela Optimus com 17%. A empresa apresenta bons resultados e destacava-se com a criação do pré-pago (Mimo), um instrumento que aumentou consideravelmente o negócio do móvel. Contudo, as margens de lucro estão sob grande pressão (…) A Vivo no Brasil tem um crescimento exponencial mas enfrenta sérios problemas. (…) Numa reunião do CA em que se debatia o futuro da Vivo e a sua importância cada vez maior no balanço da PT, [Patrick] afirma: — Se as nossas operações no Brasil continuarem a crescer desta maneira dentro de uns anos teremos que mudar a sede e a gestão para São Paulo. Uma gestão à distância do tipo colonial não funciona! Um administrador indicado pelo Estado, comenta de imediato: — É o que faltava, eu ir viver para o Brasil! Nem pensar!

Outro dos momentos-chave de Patrick Monteiro de Barros na PT foi a venda do grupo de media Lusomundo, que tinha os jornais JN, DN e TSF, entre outros. E o empresário e velejador nunca teve dúvidas sobre as razões que levaram a companhia a comprar o negócio ao coronel Luís Silva, então acionista da própria PT. “A multimédia que reúne os activos da Lusomundo (cinemas e vários órgãos de comunicação social, entre eles, o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, entre outros) que foram adquiridos por decisão do governo socialista ao coronel Luís Silva, dono da Lusomundo. A justificação do investimento foi a necessidade de ter acesso aos conteúdos. Na verdade, era uma estratégia do PS de poder controlar indirectamente uma parte importante do sector da comunicação social portuguesa”.

No meio de uma discussão dura com o governo de Durão Barroso sobre a compra da rede fixa ao Estado e da pressão crescente dos reguladores e do próprio governo por causa da separação das redes fixa e de cobre – dois temas sensíveis e que Patrick acompanhou de perto – surge a venda da Lusomundo.

  • “No início de Julho de 2004, o panorama político em Portugal muda, com a demissão de Durão Barroso que aceita o convite para presidir à Comissão Europeia. Depois de uma longa lista de audiências, o presidente da República, Jorge Sampaio, indigita Pedro Santana Lopes para primeiro-ministro (…). Em Outubro de 2004, Fernando Lima é despedido do cargo de director do Diário De Notícias, por «recomendação» do Governo, e Henrique Granadeiro é substituído na liderança da PT Multimédia por Luís Delgado”.“Dias depois, o primeiro-ministro Santana Lopes, num debate sobre a PT afirma que esta deve vender os órgãos de comunicação social. A resposta de Patrick não se fez esperar: — Quem manda na empresa são os accionistas e não o Governo ou então não vendesse a PT.” Claro como a água, fiel à sua própria forma de ser.

    “É dado ao Besi um mandato para encontrar um comprador para a Lusomundo. Na véspera das eleições legislativas de 20 de Fevereiro de 2005, José Sócrates chama Miguel Horta e Costa [presidente executivo] e convencido de que vai ser o próximo primeiro-ministro, pretende que a venda da Lusomundo seja adiada e aprovada pelo novo Governo. A Comissão Estratégica da PT decide manter o calendário”. O tema da Lusomundo acabou por ser, aliás, a principal razão que levou às mudanças na administração. Já lá vamos.O que diz Patrick: “Consta nos bastidores que José Sócrates está furioso com a PT e muito especialmente com Horta e Costa pela venda da Lusomundo, pois a sua preferência era a Prisa do grupo Polanco, muito próximo do PSOE, o partido socialista espanhol, liderado por José Luis Zapatero. Uns meses mais tarde, num casamento em Palma de Maiorca, Jesús de Polanco, fundador do grupo Prisa, manifesta a Patrick o seu desagrado com Sócrates em termos muito duros, porque este lhe tinha garantido que ele seria o comprador ou pelo menos teria um last look. — Es un mentiroso!”

    A Comissão Estratégica reúne-se a 22 de Fevereiro de 2005 para analisar a venda da Lusomundo. O Besi apresenta um relatório com as seguintes propostas: Fernando Ulrich levanta algumas dúvidas e objecções.

    CONTROLINVEST – 279,5 MILHÕES
    PRISA – 275 MILHÕES
    MEDIA CAPITAL – 250 MILHÕES

    Depois de um longo debate sobre vários aspectos da proposta, é resolvido levar o assunto ao CA do dia 27 com a proposta da Comissão Executiva de aprovar a compra pela Controlinvest. Na manhã seguinte, o Jornal de Negócios, propriedade da Cofina, traz um relato completo da reunião do dia anterior.

    A proposta de venda da Controlinvest é aprovada por maioria com o voto contra de Fernando Ulrich, o que faz sentido. O Banco La Caixa (espanhol) é um grande accionista do BPI e também é o banco do grupo Prisa que detém a Media Capital, dona da TVI.

As divergências dentro da PT – por tudo e por nada -, essas, continuam e é o empresário que está na linha da frente coontra a intervenção dos poderes políticos na companhia.

  • “Numa reunião do CA da Portugal Telecom, Patrick faz uma intervenção onde conclui que a empresa está numa situação muito grave com a Vivo e a TMN em dificuldades. Só a valorização da moeda brasileira tem ajudado a camuflar a realidade. O clima interno é péssimo. Circulam inúmeros boatos, o mais comentado é que Ernâni Lopes e Horta e Costa não serão reconduzidos. Em várias reuniões com Ricardo Salgado persiste um grande desacordo sobre a estratégia a adoptar em relação ao Governo para a nomeação do chairman e da Comissão Executiva que na opinião de Patrick, deveriam ser profissionais e não apparatchiks. A PT precisa de uma gestão forte e competente”.”A 21 de Outubro tem uma longa reunião com o ministro das Obras Públicas Mário Lino, que pretende ouvir a sua opinião pois é o maior accionista individual da PT e tem tido nos últimos dois anos um papel que todos louvam. (…) Quanto à gestão futura, o CEO deve ser um especialista em telecom a par da evolução tecnológica. — Estamos fartos de grandes gestores generalistas que fazem a fortuna dos consultores — desabafa.

    No final da reunião, Mário Lino revela que não está satisfeito nem com o actual CEO nem com o chairman. Naquela altura, aborda António Carrapatoso, que lidera a Vodafone, sobre a possibilidade de vir a ser o próximo CEO, mas as suas pretensões em matéria de remunerações nunca seriam aceites pelos accionistas”.Como é hábito os Monteiro de Barros passam as férias de Natal em Edgemont. Num longo telefonema com Ricardo Salgado, Patrick manifesta a sua preocupação com a vontade do Governo colocar os seus boys na gestão da PT. Fica a saber que o primeiro-ministro, José Sócrates, quer nomear um protegido seu, Rui Pedro Soares, para a Comissão Executiva da PT. Soares trabalhava no departamento de gestão do património imobiliário e já fora promovido há poucos meses para administrador da PT Compras.O ministro Mário Lino convoca-o novamente para uma reunião para trocar impressões sobre a golden share e a futura administração. Confirma que o Governo vai nomear Rui Pedro Soares e que o mesmo deve ir para a Comissão Executiva. Patrick manifesta alguma reserva ao que Mário Lino responde: — Ele é altamente recomendado pelo primeiro-ministro! Não admito discussão!

O resto é história. Patrick sai de cena – ainda decorria a OPA da Sonae – e a história da PT acaba por lhe dar razão. “Os anos seguintes foram anos muito difíceis para a PT, que acabou por ser praticamente destruída. A 10 de Dezembro de 2014, o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, declarou publicamente durante uma visita ao Alentejo, que há uma pergunta legítima que todos os portugueses têm o direito de colocar: — O que é que andaram a fazer os accionistas e os gestores da PT? –, perguntou, indignado, Cavaco Silva. Em Dezembro de 2014, o Conselho de Administração da OI aprovou a venda da Portugal Telecom ao grupo francês Altice por 7,4 mil milhões de euros”.

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