Um mês no PSI-20? Ibersol e Novabase só negociaram um dia

Foram promovidas ao índice de referência português há um mês mas têm estado "fora da bolsa". Ibersol e Novabase só negociaram 5% do tempo, pouco mais do que uma sessão em 21 sessões.

Ibersol e Novabase completam esta quinta-feira um mês na principal montra do mercado bolsista português. Mas, apesar da maior visibilidade com a pertença ao exclusivo índice PSI-20, tanto uma como outra têm faltado à chamada. Contas feitas aos minutos em que houve pelo menos uma transação destes títulos, as duas cotadas apenas negociaram pouco mais do que uma sessão desde o dia 20 de março. São dois zombies à solta em Lisboa.

O cenário é constrangedor para um índice de ações que funciona como principal chamariz internacional da bolsa portuguesa. A Ibersol IBS 0,00% e a Novabase NBA 0,00% chegaram ao PSI-20 há um mês, depois de o BPI ter deixado o benchmark português reduzido a 17 membros, mas têm ambas estado praticamente ausentes. Passaram-se 21 sessões desde a promoção. Porém, contabilizando os minutos em que houve efetivamente troca destes títulos, é como se tivesse passado apenas um dia de expediente na bolsa para as duas empresas. Porquê?

“São duas micro caps, pequenas empresas, de uma bolsa periférica”, diz Rui Bárbara, gestor de ativos do Banco Carregosa.

"São duas micro caps, pequenas empresas, de uma bolsa periférica.”

Rui Bárbara

Gestor de ativos do Banco Carregosa

Steven Santos, do Banco BiG, complementa: “A Ibersol e a Novabase têm um free float diminuto e uma baixa capitalização bolsista, o que, por si só, afastam investidores institucionais. Ao mesmo tempo, o PSI-20 tem tido um desempenho inferior ao de muitos índices acionistas europeus desde o início do ano”.

No caso da tecnológica liderada por Luís Paulo Salvado, é mesmo a cotada que apresenta a capitalização bolsista mais baixa do PSI-20, avaliada em menos de 100 milhões de euros. Já a empresa de restauração, que explora marcas como o Burger King ou Pizza Hut, tem um valor de mercado de 365 milhões de euros — vale mais, ainda assim, do que a Pharol, Sonae Capital e Montepio.

Fora do radar

Apesar a reduzida liquidez, as duas cotadas apresentam-se com ganhos bastante acima dos seus pares desde o início do ano. A Ibersol ganha 22% desde o início do ano e a Novabase avança mais de 24%, situando-as entre os melhores desempenhos do PSI-20. O rally delas aconteceu sobretudo quando ainda estavam na “segunda liga”, o que ajuda a explicar que desde o dia 20, em que passaram ao escalão principal, assumem valorizações menos expressivas face ao índice.

Fonte: Bloomberg (valores em %)

Apesar de surgirem destacadas, o fator novidade não tem despertado o interesse de muitos investidores, sobretudo institucionais. Com a promoção ao PSI-20, era expectável que Ibersol e Novabase entrassem no radar de muitos fundos de investimento, que estão direcionados sobretudo aos índices de referência. Só que neste caso isso não tem acontecido. Para Steven Santos, isto sucede por causa das forças de (des)equilíbrio dentro do próprio índice, numa estrutura bolsista que retira preponderância às pequenas cotadas em favor das grandes empresas.

“Há instrumentos passivos como os ETFs que não replicam integralmente a composição do PSI-20, devido ao baixo peso no índice de algumas empresas constituintes“, nota Steven Santos. No PSI-20, os seis principais membros — BCP, EDP, Jerónimo Martins, Galp, EDP Renováveis e Nos — têm um peso dominante de quase 70% sobre o índice. E “alguns cabazes de ações preferem deixar de fora ações com uma ponderação residual no índice”, remata o gestor do BiG. Ou seja, Ibersol e Novabase ficam na sombra.

"Há instrumentos passivos como os ETFs que não replicam integralmente a composição do PSI 20, devido ao baixo peso no índice de algumas empresas constituintes. Alguns cabazes de ações preferem deixar de fora ações com uma ponderação residual no índice.”

Steven Santos

Gestor do Banco BiG

Rui Bárbara acredita, ainda assim, que a entrada das duas cotadas no PSI-20 tenha aumentado o número de ordens dadas sobre estas ações, “quanto mais não seja por força dos volumes passivos, isto é das compras de instrumentos que replicam os índices, como os ETF”. “Mesmo assim, não deixam de ser títulos de baixa liquidez”, diz.

Luzes desligadas mas em máximos

A Ibersol pouco negoceia mas encontra-se num bull market que tem deixado o título em máximos históricos. Está a transacionar atualmente nos 15,03 euros. Para Steven Santos, a empresa liderada por António Teixeira tem ganho brilho especial com aumento da atividade turística em Portugal e Espanha, mercados onde está presente.

Ainda assim, as ações têm passado um pouco indiferentes, com pouca expressão no que toca à troca de títulos no mercado e nem os pequenos investidores tem demonstrado especial interesse na única empresa de restauração que negoceia em Lisboa. “Possivelmente, o elevado preço nominal, em torno dos 15 euros, é um fator dissuasor”, diz.

Já a Novabase, longe dos máximos de 14 euros que atingiu em 2000, em plena formação da bolha tecnológica em Wall Street, está a cotar nos 3,10 euros. É o valor mais elevado dos últimos três anos, com a empresa a beneficiar do encaixe de 44 milhões de euros resultante da venda da Infrastructures & Managed Services à Vinci, em janeiro.

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