Qual a probabilidade de Portugal sair do “lixo” da Moody’s?

Governo e analistas acreditam que a mais maldisposta das agências vai melhorar o rating esta sexta-feira. Mas quais são as probabilidades disso acontecer?

Qual a probabilidade de a Moody’s, a mais maldisposta das agências de rating, tirar Portugal do “lixo” já esta sexta-feira? O Governo e os analistas parecem apostados numa subida da notação da dívida portuguesa perante a melhoria das condições económicas do país. Mas, para lá dos argumentos financeiros, também o histórico das decisões da agência parece jogar a favor do país.

Em média, a Moody’s toma sempre uma ação (ou sobe ou desce o rating) no espaço de um ano após ter colocado esse rating sob a perspetiva “positiva” ou “negativa”. E é precisamente esse o caso português. Passa agora um ano desde que a agência norte-americana melhorou o outlook da dívida portuguesa (Ba1) para “positivo” e, se as estatísticas contarem para alguma coisa, então Portugal subirá ao campeonato das dívidas com o título de qualidade de investimento.

A acontecer, uma decisão favorável da Moody’s não vai apanhar desprevenido o Governo. Ainda esta quinta-feira, Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado Adjunto e das Finanças, disse que tem “uma elevada expectativa de que em breve a dívida portuguesa possa a merecer o grau de investimento por parte de todas as principais empresas de notação financeira”.

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Também não apanhará desprevenido o Commerzbank: “A Moody’s deverá fazer regressar Portugal para um nível de investimento de qualidade esta sexta-feira após ter colocado o outlook em positivo há um ano, perante dinâmicas macroeconómicas e orçamentais sólidas”. Isto apesar de não conhecer ainda a proposta de Orçamento do Estado para 2019, a apresentar no início da próxima semana.

Para Filipe Silva, gestor de ativos do Banco Carregosa, é mesmo “uma questão de tempo” até os analistas olharem para Portugal com outros olhos. A Moody’s foi a primeira agência a colocar o país no “lixo” em 2011, nas vésperas da crise, sendo única agência entre as Big-3 a manter esse estatuto – Standard&Poor’s e Fitch já melhoraram a notação do risco da dívida o ano passado.

A Moody’s deverá fazer regressar Portugal para um nível de investimento de qualidade esta sexta-feira após ter colocado o outlook em positivo há um ano, perante dinâmicas macroeconómicas e orçamentais sólidas.

Commerzbank

Se não for esta sexta-feira, será numa das próximas revisões. A probabilidade de ser agora ou da próxima vez é muito semelhante“, diz Filipe Silva. “A descida do custo médio da dívida portuguesa e a melhoria na capacidade de a amortizar é um fator de peso. Mas a melhoria do acesso ao crédito por parte das empresas, sobretudo as PME, e a ausência de uma crise sistémica no setor financeiro são outras razões positivas”, explica.

"Se não for amanhã, será numa das próximas revisões. A probabilidade de ser amanhã ou da próxima vez é muito semelhante.”

Filipe Silva

Gestor do Banco Carregosa

Historicamente, apenas um terço dos emitentes foram revistos em alta (baixa) no espaço de 18 meses após a agência ter decidido colocar o rating com perspetiva positiva (negativa), mostram as mesmas estatísticas da Moody’s. Ou seja, se não for agora, as boas notícias surgirão apenas no próximo ano, indo ao encontro das expectativas de Steen Jakobsen, economista-chefe do Saxo Bank.

“Portugal pode argumentar que está melhor”, reconhece Jakobsen. “Se eu dirigisse uma agência de rating, daria os parabéns a Portugal pelo seu resultado, mas deixaria passar mais tempo antes de mudar as minhas ideias”, sublinhou, lembrando que uma parte da banca continua a apresentar sinais de fragilidade.

Ainda assim, quando subiu o outlook para positivo, há um ano, a Moody’s disse que estava à espera para ver uma “tendência firme de descida” na dívida pública, que se situava nos 129,5% do Produto Interno Bruto. Facto: o endividamento público chegou a junho nos 124,9% do PIB, menos cinco pontos percentuais.

"Se eu dirigisse uma agência de rating, daria os parabéns a Portugal pelo seu resultado, mas deixaria passar mais tempo antes de mudar as minhas ideias.”

Steen Jakobsen

Economista-chefe do Saxo Bank

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