E se Trump aplicar tarifas aos sapatos portugueses? “Criamos um produto impossível de resistir”, diz Luís Onofre

Se o presidente norte-americano decidir impor tarifas aduaneiras sobre o calçado, os portugueses planeiam responder com "produtos irresistíveis". Já enfrentar o Brexit, é mais complicado.

Se, depois de ter aplicado tarifas aduaneiras ao aço e alumínio europeus, Donald Trump decidir taxar também o calçado, os empresários lusos já têm um plano de ataque. “Criamos um produto que seja impossível de resistir”, adianta ao ECO o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), Luís Onofre. Mas um imposto pesado seria um problema grande para o setor, reconhecem os portugueses presentes, na MICAM, em Milão.

“Se não pudermos lutar contra isso, teremos de lutar com as armas que temos, que é fazer um produto que seja impossível de resistir”, sublinha Onofre. O responsável lembra que os Estados Unidos não produzem sapatos, sendo portanto menos provável a aplicação de tarifas sobre estas importações.

O mesmo sentimento de (relativa) tranquilidade é partilhado por José Pinto. O CEO da Lemon Jelly garante que contornar um ataque comercial norte-americano passaria pela criação de produtos de “aquisição necessária”, já que, mesmo nessas circunstâncias, haveria sempre clientes com condições para o fazer.

“Por mais que se diga isso, se amanhã houver um imposto de 30%, a realidade vai ser diferente. Perderíamos vendas. Hoje em dia, as pessoas estão muito sensíveis às variações dos preços. Um salto desses era um grande problema”, discorda o gestor da Softinos, João Monteiro, que revela “receio” quanto aos planos de Donald Trump. O responsável sugere, pelo contrário, a aposta em “mercados alternativos”.

Brexit provocou “cambalhota” do setor

O Brexit fez o setor dar uma “cambalhota”, mas já está a recuperar.Simon Dawson/Bloomberg

Se os empresários portugueses têm a resposta às eventuais políticas protecionistas de Donald Trump na ponta da língua, quando o assunto é a saída do Reino Unido da União Europeia, a visão não é assim tão clara.

Depois da “cambalhota” sofrida logo após o referendo do Brexit em 2016, as companhias lusas estão agora a recuperar, mas mantém-se expectantes quanto ao próximo ano, adianta ao ECO o presidente da APICCAPS.

“Logo no ano da decisão, tivemos uma cambalhota grande, mas estamos a recuperar”, reforça o responsável pela Softinos.

Também Pedro Sampaio, da Dark Collection, realça que esse divórcio provocou uma quebra significativa nas suas vendas. “O Reino Unido tinha mais de 50% da quota de produção da nossa empresa, mas registou um recuo por questões como o Brexit”, sublinha.

E como superar esse corte, que se torna efetivo no próximo ano? “Estamos a apostar em outros mercados para compensar essa evolução”, enfatiza, por sua vez, Miguel Silva. O responsável da Karisma — marca que também registou uma diminuição das suas vendas face à escolha britânica — adianta que são os alemães e os norte-americanos os clientes mais apetecíveis.

O líder da APICCAPS, por sua vez, deixa a nota: “Espero que o Brexit seja feita de forma tranquila, que seja um degradê de problemas, mas muito suavizado”. Luís Onofre afirma que “não há razão” para que os criadores portugueses deixarem de trabalhar com o Reino Unido. Depois do tumulto da sua saída da União Europeia, as relações comerciais deverão recuperar “rapidamente o equilíbrio”, antecipa.

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