A estória da Carochinha e do João Ratão tem novos capítulos

A entrevista de Augusto Santos Silva, onde o ministro aumenta o grau de exigência para repetir a geringonça, obrigou António Costa a vir a terreno e voltar a defender a atual solução.

A entrevista de Augusto Santos Silva ao Público e Renascença, publicada esta quinta-feira, obrigou António Costa a vir a terreno defender novamente a solução da geringonça. O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que a atual solução governativa deve incluir novas matérias, que até agora ficaram fora do espaço de convergência entre o PS e os seus aliados à esquerda, o que levou o histórico socialista Manuel Alegre a pedir que o assunto seja esclarecido. Quem também já reagiu foi o PCP, colando o PS ao PSD/CDS, reafirmando a sua oposição à Nato e mostrando-se a favor da renegociação da dívida.

No início do mês, os deputados socialistas juntaram-se no Alentejo nas jornadas parlamentares. No encerramento do encontro, António Costa disse aos parlamentares que a geringonça “está no coração dos portugueses” e afastou uma solução de Bloco Central.

Já esta semana, o primeiro-ministro voltou ao tema. Num debate organizado pelo PS, no âmbito da preparação do debate do Estado da Nação que acontece esta sexta-feira, o líder dos socialistas insistiu: “o PS não é propriamente uma Carochinha que anda à procura de um João Ratão“.

Costa sublinhou que o partido tem uma “identidade própria”. Esta foi uma questão muito abordada pelos socialistas no congresso de maio, na Batalha, que começou com uma divisão clara de posições: entre os que se sentem mais próximos de Pedro Nuno Santos e de uma solução mais à esquerda e os que se veem mais perto de Augusto Santos Silva que considera que não se devem fechar portas a uma solução ao centro, que envolva mais o PSD. No fim, Costa rematou que o PS “está onde sempre esteve”.

Mas o assunto parece não estar encerrado. Depois da declaração de amor à geringonça e do recurso ao conto infantil português da carochinha que está à janela à procura de um João Ratão para casar, o ministro do Negócios Estrangeiro disse em entrevista que uma nova geringonça tem incluir acordos sobre política externa e política europeia.

“Ao colocar [estes temas] agora em cima da mesa, Santos Silva está a inviabilizar a continuação da geringonça e a passar-lhe uma certidão de óbito”, disse ao Expresso o histórico socialista Manuel Alegre, acrescentando que “este tema nunca foi discutido no partido e gera uma polémica grave”. “Santos Silva colocou o primeiro-ministro numa situação ingrata. Isto tem de ser esclarecido.”

Em declarações ao Público, o primeiro-ministro contrariou o seu número dois no Governo. “Este é o grau de compromisso possível com a convergência que alcançámos. Ora, o que corre bem não deve ser perturbado nem interrompido“, disse António Costa, contrariando assim o ministro. “Nem um otimista irritante como eu acredita que seja possível superar divergências que são identitárias. Mas também não considero que seja necessário. Como provámos nesta legislatura, podemos entender-nos sobre o que queremos fazer em conjunto, respeitando a identidade de cada um”, justificou o chefe do Executivo.

À Rádio Renascença, Francisco Assis, que no último congresso elogiou a forma como António Costa tem conduzido a solução governativa da qual é crítico, afirmou, citado pelo Público, que Santos Silva “está a enunciar o princípio da impossibilidade estrutural de uma geringonça como solução estável e de futuro para Portugal”.

Também o PCP reagiu à polémica que marcou o dia político. “O PCP é portador de um projeto próprio para o país. Um projeto assente numa política alternativa, uma política patriótica e de esquerda que entendemos necessária projetar no presente e no futuro do país. Essa política alternativa que o PCP defende, patriótica e de esquerda, tem como eixos essenciais questões como a afirmação da independência e soberania nacionais, a rejeição da submissão do país a interesses contrários e em posições contrárias ao seu interesse, o controlo público de setores estratégicos da economia, a valorização do trabalho e dos trabalhadores, a renegociação da dívida”, reagiu o comunista João Ferreira.

O PCP lembra ainda que a sua política se diferencia da do Partido Socialista nos seus “eixos essenciais”, “não apenas nas áreas que referiu mas também naquelas que eu referi, áreas de resto nas quais o Partido Socialista consabidamente converge com o PSD e com o CDS sendo daí têm resultado prejuízos evidentes para o país”.

Rui Rio, o líder do PSD, que assinou em abril dois acordos com o Governo sobre descentralização e fundos comunitários, recusou estar no papel de quem quer casar com o PS. “Não tenho cara de João Ratão“, disse o presidente social-democrata, numa tentativa de afastar soluções de bloco central.

Com o aproximar do Orçamento do Estado para 2019, e depois de o Governo ter fechados dois acordos com o PSD de Rui Rio, o clima de tensão política aumentou dentro da geringonça. Em maio, o Presidente da República avisou que convocaria eleições antecipadas se o OE fosse chumbado.

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