Auditor do Sporting diz que rescisões ameaçam continuidade da SAD. Capitais próprios passam a negativo

A informação faz parte de um comunicado publicado pela SAD do Sporting na Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esta madrugada, às 2h48. Nessa comunicação, o Sporting diz que a PWC, na qualidade de auditor da SAD, fez a seguinte comunicação à CMVM, no passado dia 12 de Junho:

“[….] Informamos Vª Exas. de que, na sequência das recentes rescisões de contratos de trabalho desportivo de jogadores da Sporting SAD, considerados como sendo dos mais valiosos em termos de mercado, e do consequente impacto na gestão do risco de liquidez da Sporting SAD, em virtude da impossibilidade de realização do valor de venda dos referidos ativos no curto prazo e dos impactos conexos na atividade da Sociedade, constatamos existir a esta data uma ameaça concreta em relação à continuidade das operações da Sporting SAD, para além das menções relatadas anteriormente nas Certificações Legais das Contas e Relatórios de Auditoria por nós emitidos”.

Capitais: de 7,5 milhões positivos passam a 9 milhões negativos

Na comunicação que faz ao mercado, o Sporting refere ainda o impacto que as rescisões dos jogadores poderão ter nas contas da SAD, seja sobre o ativo, seja sobre os capitais próprios.

Impacto sobre o ativo: “Os impactos calculados a 31 de Março de 2018, data a que reportam as últimas contas publicadas pela Sociedade, em termos do Ativo Intangível – Valor do Plantel, indicam, para os jogadores comunicados pela Sociedade como factos relevantes, um valor de redução do mesmo em cerca de 16,5 milhões de euros, representando 6% do total do ativo”;

Impacto sobre os capitais próprios: “da mesma forma”, diz o comunicado, “o impacto da possível imparidade associada ao valor do plantel, sem qualquer efeito de imposto sobre o rendimento, conduziria, na mesma data de 31 de março de 2018, a que o total dos capitais próprios passasse de 7,5 milhões de euros para cerca de 9,0 milhões de euros negativos”.

Não é claro no comunicado se estas contas são da responsabilidade da auditora PwC ou da própria SAD.

Nas últimas contas apresentadas ao mercado, com a data até 31 de março, o Sporting tinha registado na rubrica “ativos intangíveis – valor do plantel” um total de 78,6 milhões de euros, sendo que o valor dos ativos totais era de 275,4 milhões.

Se o auditor vê o copo meio vazio, a SAD do Sporting tenta ver o copo meio cheio e realça as vantagens financeiras de não ter de pagar salários aos jogadores mais valiosos do plantel:

“É expectável que tais rescisões, aliadas às revogações por mútuo acordo com a equipa técnica, determinem uma descida acentuada dos gastos com pessoal; ademais, o conselho de administração considera ilícitas as rescisões contratuais apresentadas pelos jogadores, por inexistência de justa causa, pelo que procurará responsabilizar tais jogadores e os clubes com os quais os mesmos celebrem contrato de trabalho, pelos danos e prejuízos sofridos, tendo a expectativa de ser, em consequência, devidamente ressarcido”.

Já são nove as baixas no plantel de futebol

No seguimento dos episódios de violência registados na Academia de Alcochete, o número de atletas que rescindiram com o Sporting, alegando justa causa, não tem parado de aumentar. São eles Rafael Leão, Rúben Ribeiro, Battaglia, Bas Dost, William Carvalho, Gelson Martins, Bruno Fernandes, Rui Patrício e Podence.

A defesa de Bruno de Carvalho

À CMVM, e no mesmo comunicado, a SAD liderada por Bruno de Carvalho rebate o alerta feito pelo auditor de que a continuidade das operações da SAD estará em risco:

“O conselho de administração considera que a continuidade das operações da Sociedade se encontra assegurada, encontrando-se a trabalhar com o objetivo de promover as operações necessárias à melhoria da performance económico-financeira, com a devida sustentabilidade, nomeadamente, através do crescimento das principais linhas de receita, do controlo dos gastos operacionais, mantendo um nível de investimento adequado, e da procura dos melhores negócios de venda de direitos desportivos e federativos de jogadores”.

Recorde-se que esta segunda-feira, o clube de Alvalade oficializou a contratação do treinador sérvio Sinisa Mihajlovic, num contrato válido até 2021. O anterior, Jorge Jesus, foi treinar um clube da Arábia Saudita.

Não obstante as rescisões comunicadas, a SAD argumenta que “continua a dispor de direitos desportivos e federativos sobre um leque considerável de jogadores profissionais de futebol” e que o conselho de administração considera que o “referido plantel permite assegurar o mesmo nível de desempenho desportivo das épocas anteriores”.

SAD diz que ainda conta com a ajuda da banca

No final desta comunicação, o Sporting procura ainda fazer prova de vida, remetendo os acionistas para o acordo de reestruturação feito com a banca em 2014, argumentando que “a continuidade das operações da Sociedade se encontra também assegurada por esta via”.

Em concreto, poderão ser concretizados, segundo a SAD; “(i) o aumento do capital social num montante total de 18 milhões, a realizar por novas entradas em dinheiro, com consequente reembolso do mesmo valor ao Novo Banco e (ii) uma nova emissão de VMOC da Sporting SAD, subscrita pelo Novo Banco e pelo Millennium BCP, no montante global de 55 milhões”, a emitir em moldes idênticos à emissão anterior de 80 milhões de VMOC.

Os VMOC são valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis e que permitem converter, por exemplo, dívida bancária em títulos que mais tarde poderão ser convertíveis em ações da SAD, sendo que contam para efeitos de capitais próprios.

Nas contas trimestrais até 31 de março, a SAD apresentava capitais próprios de 7,5 milhões de euros, sendo que este valor só era positivo porque o valor dos VMOC (127,9 milhões) amenizava as perdas contabilizadas na rubrica “reservas e resultados acumulados” que apresentava um valor de 195,8 milhões de euros negativos.

(Notícia atualizada às 6h25 com informação adicional sobre o relatório e contas da SAD).