Tensão em Espanha e Itália passa fatura. Já só um quinto da dívida portuguesa tem juros negativos

Cerca de 14 mil milhões de euros em obrigações portuguesas deixaram de negociar com juros negativos em maio, na sequência da escalada do risco na Zona Euro.

É um dos reflexos da crise política que atingiu Espanha e Itália: já só um quinto da dívida portuguesa no mercado apresenta taxas de juro negativas, totalizando os 25 mil milhões de euros no final de maio, de acordo com os dados da Tradeweb fornecidos ao ECO. Em abril, a dívida pública portuguesa com juros negativos ascendia a 39 mil milhões de euros, mais de 30% do total.

Ou seja, num só mês, cerca de 14 mil milhões de euros de obrigações do Tesouro passaram de taxas negativas para taxas positivas. Isto tem especial importância na medida em que os juros portugueses do mercado funcionam como uma referência para as novas emissões de dívida realizadas pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP).

Mas não se pense que esta evolução tenha propriamente a ver com o aumento do risco do país. O mês de maio terminou com o cenário político na Zona Euro em alta tensão. Primeiro foi Itália, a terceira maior economia do euro, a deixar os investidores com os nervos em franja, depois da ascensão dos partidos antissistema e populares Movimento 5 Estrelas e Liga Norte ao governo. A agenda destes dois partidos não era propriamente do agrado dos mercados, incluindo medidas como um perdão de dívida ou a saída da Zona Euro.

Depois foi Espanha, com a moção de censura apresentada pelo PSOE ao Governo de Mariano Rajoy, na sequência das sentenças aplicadas a vários dirigentes do PP num caso de corrupção dentro do partido. A moção foi aprovada no Parlamento espanhol e consequência direta: Rajoy caiu e Pedro Sánchez é agora o novo líder do Executivo espanhol.

Juros portugueses a dez anos aliviam após crise

Fonte: Reuters

Foi neste contexto de turbulência política que os juros da dívida dos governos da Zona Euro, sobretudo da periferia, subiram em flecha. Por exemplo, a taxa de juro associada às obrigações a 10 anos italianas voltou a superar os 3%, o que já não acontecia desde 2014. No mercado português, os juros a 10 anos também escalaram para cima de 2%, tendo atingido máximos desde outubro do ano passado. Em Espanha, a dívida mesmo prazo viu a taxa registar o valor mais alto do ano acima dos 1,6%. Simultaneamente, uma grande parte de títulos de dívida em que os investidores apostavam mesmo sabendo que iriam perder dinheiro passou a apresentar juros positivos.

Segundo a Tradeweb, a crise política reduziu substancialmente a parte da dívida da Zona Euro com juros negativos: passou de 40% em abril para 36% em maio, o nível mais baixo desde que começou a recolher estes dados. Cerca de 2,61 biliões de euros (35,5%) de um total de 7,3 biliões de euros de obrigações que estão no sistema mantêm juros abaixo de zero.

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