Depois dos pacotes, a moda nas telecomunicações é o “à la carte”

Escolher um serviço de telecomunicações é cada vez mas como ir ao restaurante e pedir o menu. As operadoras estão a lançar ofertas mais personalizáveis para clientes cada vez mais exigentes.

Ofertas “à la carte” são uma tendência em crescimento nas telecomunicações.Fotomontagem: Ana Raquel Moreira/ECO

Escolher um tarifário para o telemóvel é cada vez mais como pedir a ementa num restaurante. Os utilizadores estão mais exigentes e querem cada vez mais personalização de serviços a preços cada vez mais baixos, um novo tipo de procura que já começou a ser encarado pelas operadoras portuguesas.

A Vodafone Portugal anunciou recentemente um novo tarifário pré-pago que diz ser “totalmente personalizável”. Chama-se Vodafone You e dá aos clientes a hipótese de “criarem o seu próprio tarifário, totalmente adaptado às suas necessidades”, explica a operadora num comunicado. No entanto, a empresa liderada por Mário Vaz não é a primeira a apostar nesta vertente.

Na verdade, foi em setembro de 2016 que surgiu uma das primeiras ofertas de serviços de telecomunicações em que é o cliente a escolher o que quer subscrever, ao invés de optar entre um leque variado de pacotes fixos, definidos pela própria empresa. Mais propriamente, aconteceu quando a Cabovisão mudou de nome e de marca, passando a chamar-se Nowo.

A personalização dos tarifários foi uma das principais bandeiras do rebranding levado a cabo pela companhia, ainda sob a batuta de Miguel Veiga Martins, que saiu da Nowo no início deste ano. Agora, com o lançamento do Vodafone You, estaremos perante uma nova tendência dos tarifários “à la carte”?

Um tarifário “desenhado pelo cliente”

Foi neste mês de fevereiro que a Vodafone anunciou um novo tarifário “desenhado pelo cliente”. “O Vodafone You é, como o próprio nome indica, único e feito à medida de cada um, dando aos clientes a possibilidade de criarem o seu próprio tarifário, totalmente adaptado às suas necessidades”, lê-se em comunicado.

E o que oferece a operadora? Em linhas gerais, a empresa dá aos consumidores a hipótese de escolherem a combinação de dados móveis e os minutos ou mensagens de texto “que mais lhes convém”. Ou seja, um cliente passa a ter a hipótese de, no momento de subscrever um novo tarifário pré-pago, escolher se quer 200 MB ou 5 GB de tráfego de dados móveis, se precisa de 500 ou 5.000 minutos para chamadas, e por aí em diante.

Outra novidade é a hipótese de os clientes poderem adicionar ao tarifário “conjuntos de aplicações de diferentes categorias” para “uma utilização sem preocupações”. Neste aspeto, a descriminação é feita por aplicações de chat, de música, redes sociais ou de vídeo onde, em cada categoria, existe um conjunto e aplicações móveis cujo tráfego não é contabilizado. A prática é conhecida por zero rating e tem merecido atenção da Anacom, por chocar contra os princípios da chamada “neutralidade da internet”.

Simular antes de aderir

Há uma característica digna de nota neste novo tipo de tarifário. As operadoras apostam em simuladores que permitem aos clientes escolher facilmente os serviços que querem incluir no novo tarifário, podendo ver as respetivas escolhas serem automaticamente refletidas no preço — ou seja, são, em teoria, mais transparentes e representam uma forma mais intuitiva de subscrever os serviços. É como se fossem um menu num restaurante.

No caso específico da Vodafone, a empresa indica que “os clientes podem testar várias combinações e acompanhar, em tempo real, a variação do valor das centenas de combinações possíveis”. No final da nota enviada às redações, a empresa aponta para estes novos tipos de tarifários como sendo “tendências do mercado”.

Também é uma ferramenta deste género que dá corpo aos tarifários modulares da Nowo, uma funcionalidade que a operadora chama de “Meu Nowo”. O simulador da empresa liderada por Miguel Venâncio começa por testar a cobertura do serviço na morada do cliente. Nos passos seguintes, o utilizador tem a oportunidade de definir com algum grau de detalhe os serviços que quer incluir dentro das categorias de TV, internet, voz e móvel.

Entre as opções no menu, o consumidor pode optar por mais ou menos canais na televisão, mais ou menos minutos de chamadas, mais ou menos tráfego e por aí em diante.

Simplicidade é “um princípio importante”

É importante perceber que as novas ofertas modulares não são totalmente flexíveis. Não é o utilizador quem define exatamente o que quer. Antes, escolhe entre um leque bastante variado de hipóteses que, contas feitas, acaba por dar a sensação de que está, de facto, a escolher o que quer. Face a esta nova tendência, o ECO contactou a Nos e a Meo para perceber qual a visão das duas operadoras acerca deste novo tipo de ofertas.

“A Nos NOS 0,33% acredita que deve dar aos seus clientes a possibilidade de escolher o produto ou serviço que melhor se adapta às suas necessidades. Evidência disso são as ofertas com diferentes níveis de dados móveis ou ofertas com diferentes velocidades de navegação de net fixa que disponibiliza”, começa por escrever a operadora liderada por Miguel Almeida, em resposta ao ECO. No entanto, deixa um alerta: “Simplicidade é também um princípio importante no desenho dos vários produtos alternativos que apresenta, sob pena de tornar a escolha difícil para o cliente.”

E continua: “Compete ao operador conciliar estes dois fatores de forma a servir da melhor forma o cliente. O operador deve, inclusivamente, ter um papel prescritor ajudando os seus clientes a fazer a melhor opção”, refere a Nos. Termina, garantindo ser “o único operador” que permite aos clientes “alterarem a configuração da componente TV dos seus pacotes através da escolha ou troca de packs de conteúdos e canais, utilizando créditos já incluídos nos pacotes que subscrevem”. Ou seja, a personalização não é total, mas já é alguma, dentro de um determinado conjunto de condições.

No caso da Meo, a operadora da Altice ATC 0,00% aponta para a oferta smart net, em que, como passou a fazer a Vodafone, discrimina tráfego consoante o tipo de aplicações.

“A Altice Portugal integra, através do seu diversificado portefólio do Meo, um conjunto de possibilidades que permitem ajustar os tarifários a necessidades concretas, por mais exigentes e específicas que sejam”, garante a empresa liderada por Alexandre Fonseca.

Assim, “a Altice Portugal lançou de forma completamente inovadora em 2017 ofertas smartnet e pacotes gigatbit, refere a dona da Meo. São as tais ofertas em que a empresa não contabiliza o tráfego gerado por certas aplicações, normalmente redes sociais, vídeos, entre outras categorias e que gerou discussão lá fora, como noticiou o ECO News, a versão do ECO em inglês, em meados de novembro do ano passado.

De qualquer forma, e independentemente do nome que as operadoras lhe deem, a tendência é no sentido de uma maior personalização das ofertas aos clientes. Por outras palavras, a experiência da escolha do tarifário é cada vez mais como ir ao restaurante. E escolher sopa, prato e sobremesa a partir do menu.

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