Marques Mendes: “Escolha de Elina Fraga foi um erro. Foi uma cedência total ao populismo”

Marques Mendes diz que mudou a liderança do PSD e a forma de fazer oposição, mas critica que o que há de novo ser bom, numa referência à escolha de Elina Fraga. Pactos de regime devem acelerar.

O PSD não entendeu a escolha de Elina Fraga. Na avaliação de Marques Mendes foi “uma imprudência e um erro”. No seu espaço de comentário semanal, o social-democrata explica porquê: “É uma cedência total ao populismo. Ela é uma populista”. Contudo, o ex-dirigente considera que o “congressos correu globalmente bem para Rui Rio e para o partido”.

Segundo Marques Mendes, o discurso de encerramento, este domingo, foi “um sinal de mudança de ciclo no PSD”. Não muda apenas o líder mas também “o estilo e a forma de fazer oposição“, defende. O antigo líder do PSD sublinhou ainda que “o discurso foi mais de futuro, menos de negação e mais de ambição”, isto numa comparação com aquela que tem sido a linha de oposição levada a cabo por Pedro Passos Coelho.

Contudo Rui Rio deixou um rasgado elogio a Passos e ao seu discurso de despedida que, na sua opinião, não é bem de despedida já que o líder cessante optou por um discurso “longo, virado para o futuro” e de grande “intensidade política”. “Passos também surpreendeu, num discurso que de despedida, foi tudo menos isso”. Mostra que “ele não queria sair e na cabeça dele pode não excluir a hipótese de voltar”, disse Marques Mendes.

Quem promete desde logo voltar é Luís Montenegro que aproveitou o congresso deste fim de semana para anunciar que vai deixar o Parlamento e que pretende, no futuro, disputar a liderança do PSD. “Foi uma surpresa, o que em política e sempre muito positivo”, frisou Marques Mendes, lembrando que, desta forma, o antigo líder parlamentar se emancipou de Passos Coelho e fez “o seu discurso mais marcante”, antecipando-se a todas as outras figuras de que se falava como putativos candidatos a disputar a liderança do partido, caso Rui Rio não tenha validade além de 2019. No entender do comentador, Montenegro demonstrou ter “os ingredientes” de um líder ao exibir coragem, lealdade (já que fez o anúncio cara a cara), combatividade em relação ao adversário externo, leia-se António Costa, e demonstrou ter “pensamento político”, avaliou Marques Mendes que também marcou presença no Congresso.

Isabel Meirelles e Manuel Castro Almeida assistem ao cumprimento de Marques Mendes a Rui Rio no 37.º Congresso do PSD.Paula Nunes/ECO

Marques Mendes sublinhou ainda que Montenegro “teve desprendimento, porque sai do Parlamento”. Uma opção que o partido aplaude já que “o PSD aprecia sempre atos de coragem”, diz Mendes. O comentador não partilha inteiramente a leitura de que o congresso não era o momento para fazer aquele anúncio e lembra que sempre que se percebe no partido que há possibilidade de disputar a liderança — algo que não aconteceu nem com Cavaco Silva nem com Pedro Passos Coelho — “um líder é entronizado, aplaudido” e “é apontado um líder para o futuro”. “Quase um líder suplente”, nas palavras de Marques Mendes. “Montenegro ganhou um estatuto. Colocou-se na posição de ser o próximo líder. Só não se sabe quando”, disse.

Pactos de regime: quanto mais cedo melhor

Para Marques Mendes, Rui Rio “encostou o PSD mais à esquerda”, ao dar um maior enfoque às questões sociais. Um sinal de “inteligência” porque deixar o centro sozinho era uma opção que apenas permitiu ao PS ganhar terreno. “O PSD estava bastante acantonado à direita”, lamentou.

O discurso económico financeiro feito por Pedro Passos Coelho era “redutor”, reconhece Marques Mendes. E Rui Rio parece querer fazer diferente ao ser “mais abrangente”, porque “acrescenta à crítica e contestação” a possibilidade de acordos de regime, algo que, na sua opinião, dá prestígio ao líder da oposição. Mas que corrigir o tiro: Rui Rio tem de “concretizar para marcar a agenda política”, já que “se está a colar a ideia de que só fala de generalidades”, alerta.

Estes acordos devem ser surgir o mais depressa possível porque isso só trará vantagens a Rio. “Nos acordo de regime a fazer com o PS, Rui Rio tem vantagem se o fizer quanto mais cedo melhor. É positivo para ele e para o país. Uma boa impressão deixa-se no início e não mais tarde”. Marques Mendes lembra que a preferência do Governo será sempre procurar entendimentos com a esquerda primeiro, mas se estes falharem… E isso, segundo o comentador, vai obrigar António Costa a mudar a forma como lida com o PSD. Primeiro porque Passos Coelho era “o cimento da geringonça” e o PS não poderá atacar Rio com a mesma intensidade e depois querer negociar acordos de regime. “O PS vai ter de ter algum talento imaginativo”.

Mas se Rio e os pactos de regime que vier a celebrar com o PS vão criar “algum incómodo à esquerda” isso não significa que o “PCP e o BE vão deixar cair o Governo”. “Nem pensar que depois das eleições vão querer passar à oposição”, frisa Marques Mendes. Mas ainda que Costa e Rio neguem até à exaustão que não estão a considerar um bloco central essa é uma questão que poderá vir a colocar-se depois das eleições legislativas de 2019. “Não acho provável o Governo de bloco central, mas também não acho impossível”, disse Mendes. “Se o PS ganhar as eleições sem maioria absoluta e o PCP e BE não se entenderem para uma segunda geringonça, a hipótese de bloco central pode considerar-se. António Costa pode vir a preferir uma solução dessa natureza e Rui Rio também, porque com isso pode distribuir clientelas e consolidar poder mesmo depois de uma derrota”.

Se o PS ganhar as eleições sem maioria absoluta e o PCP e BE não se entenderem para uma segunda geringonça, a hipótese de bloco central pode considerar-se. António Costa pode vir a preferir uma solução dessa natureza e Rui Rio também, porque com isso pode distribuir clientelas e consolidar poder mesmo depois de uma derrota.

Marques Mendes

O que não correu bem?

Apesar da nota positiva que Marques atribui ao congresso deixa alguns alertas relativamente ao que não correu bem. Desde logo a escolha de Elina Fraga para vice-presidente do partido, mas também o facto de ao nível das listas não ter inovado muito.

Aquilo é bom não é novo. E o que é novo não é bom”, disse Mendes numa referência à entrada de Manuel Castro Almeida, David Justino e Feliciano Barreiras Duarte. “Pessoas com qualidade, competência, experiência. Mas não é novo, deveria haver muito mais renovação”. Já “Elina Fraga é novo mas não é bom”, frisa. “É uma imprudência e um erro”.

Erro foi também o facto de Rui Rio não ter tido “uma palavra sobre matérias de Justiça. “Deve corrigir esse erro”. “O que é novo na Justiça, a capacidade de investigar, designadamente gente poderosa, Rui Rio é já a terceira ou quarta vez que não faz qualquer referência”, aponta.

Marques Mendes deixa ainda um alerta para a urgência do tempo. Rio não vai ter tempo para se preparar. “É tipo jogo de futebol. Já estamos no intervalo e o adversário está a ganhar dez a zero. Tem de ter um ritmo acelerado”, apela Marques Mendes.

(Artigo atualizado)

 

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