“Sem o BCE, Zona Euro teria pago mais um bilião em juros”, diz a Fitch

A Fitch alertou esta quinta-feira que se o Banco Central Europeu não tivesse mudado a sua política monetária, os países da zona euro teriam pago mais um bilião de euros em juros por causa da dívida.

A Fitch tem uma mensagem para o Banco Central Europeu: “já chega”. A agência de notação financeira considera que a política monetária de “whatever it takes” (o que for necessário) já não é necessária para a sustentabilidade da Zona Euro. Esses estímulos do BCE criaram espaço orçamental que os Estados-membros já usaram. Segundo a Fitch, os países da moeda única teriam pago mais um bilião em juros caso Mario Draghi tivesse ficado parado.

“Se o Banco Central Europeu não tivesse reduzido as taxas a partir de 2008, a zona euro tinha pago mais um bilião de euros em juros do que pagou”, afirmou Tony Stringer, o diretor de ratings soberanos da agência. Num evento da Fitch, que decorre em Lisboa esta quinta-feira, Stringer considerou que o espaço orçamental criado pelas baixas taxas de juro (decréscimo do custo do financiamento) já foi aproveitado pelos governos. À medida que os encargos com juros foram descendo, os Estados aumentaram os gastos com outras despesas.

Esta situação pode tornar-se uma vulnerabilidade em breve quando os bancos centrais começarem a apertar a política monetária. Tony Stringer explicou que, quando as taxas começarem a subir e isso tiver um impacto nos encargos com juros dos Estados, os orçamentos nacionais podem ser afetados com este “fardo”. A Fitch prevê que o Banco Central Europeu termine o seu programa de compras em setembro de 2018 e que aumente a taxa de juro em 50 pontos base em 2019. É nesse ano que a agência espera que comecem a existir pressões orçamentais.

Apesar do custo da dívida estar a descer, a dívida em percentagem do PIB continua a aumentar em alguns países. É o caso de Portugal, pelo menos até 2017, ano em que se espera que o peso da dívida diminuía, ainda que o seu valor nominal volte a subir, dado que continua a existir défice.

Este não é o único risco que a Fitch identifica na zona euro. A agência de notação financeira considera que a incógnita à volta das reformas do euro promovidas por Emmanuel Macron e, mais recentemente, com o apoio alemão, pode ser um risco no futuro. É o caso do orçamento comum, do ministro das Finanças da zona euro, as mudanças no Parlamento e o aprofundamento da União Económica e Financeira.

Se o Banco Central Europeu não tivesse reduzido as taxas a partir de 2008, a Zona Euro tinha pago mais um bilião de euros em juros do que pagou.

Tony Stringer

Diretor dos ratings soberanos da Fitch

Além disso, há países europeus que terão mudanças internas que podem constituir riscos. Itália, por exemplo, terá eleições em maio, mas estas poderão ser antecipadas para março, na ótica da Fitch. Apesar de considerar que não existe o perigo de haver um Governo eurocético, a agência de rating prevê que não existe uma maioria estável para governar o país. 2018 será também marcado pela conclusão do Brexit, dado que o acordo final terá de ser ratificado pelos Estados-membros até março de 2019, no máximo.

No resto do mundo, a tendência será maioritariamente positiva até 2020 com um crescimento económico sustentado, após 2017 ter sido o ano mais positivo em termos de rating desde 2011. Mas também há riscos, segundo a Fitch: o aumento das taxas de juro num mundo de dívidas grandes, a instabilidade política dos acordos comerciais e as incertezas geopolíticas na Ásia e no Médio Oriente.

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