Centrais paradas, regas limitadas. Como o país combate a seca

O consumo de água está limitado em todo o país e o Governo já movimentou 500 milhões de euros para apoiar os agricultores. É a resposta de Portugal a uma das piores secas dos últimos 100 anos.

Todo o território nacional está há seis meses em seca severa e extrema. O volume médio de precipitação “muito inferior ao normal” tem levado câmaras municipais e empresas, por todo o país, a implementarem várias medidas para combater esta seca, desde centrais hidroelétricas paradas até ao esvaziamento de piscinas.

500 milhões para apoiar agricultores

Ainda em outubro, o ministro da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, anunciou que seriam disponibilizados 500 milhões de euros para apoiar os agricultores, montante que equivale a um pagamento antecipado das ajudas que a Política Agrícola Comum destina aos agricultores. Vão ainda ser entregues até 4.500 toneladas de ração para animais e disponibilizadas linhas de crédito até cinco milhões de euros.

EDP tem centrais paradas

A EDP tem seis albufeiras sob gestão “prudente”, das quais duas estão mesmo paradas. Segundo explicou ao ECO fonte oficial da EDP, a central de Vila-Tabuaço, no rio Távora, e a central de Santa Luzia pararam a produção de eletricidade, porque a água existente nas respetivas albufeiras se destina agora apenas ao consumo público. Isto porque as regras definidas nos contratos de concessão determinam que “o consumo humano é sempre considerado prioritário”.

Esta “gestão prudente” das albufeiras, por parte da EDP, começou ainda no final da primavera. A exploração das albufeiras de Guilhofrei, Carrapatelo, Aguieira/Raiva e Belver está limitada “de modo a manter reservas de águas para outros usos.

Consumo de água limitado por todo o país

Por todo o país, o consumo de água está limitado. No final de outubro, o Governo anunciou mesmo que haverá restrições de água combinadas com as autarquias, uma medida que se estende a todo o Portugal Continental. O ministro do Ambiente aconselhou a que todos, “mesmo os que não estejam a ser afetados” tenham cuidado na utilização de água. No caso dos serviços públicos, foi limitada a lavagem de ruas e as regas de jardins. Além disso, não serão atribuídas licenças para se fazerem furos para a captação de água nas zonas urbanas que tenham rede pública de abastecimento.

Ao mesmo tempo, o Governo apela à população que poupa água. Este mês, lançou uma campanha a alertar para o nível de seca que se vive no país.

“Uma torneira aberta durante um minuto pode gastar 12 litros de água. Fechando a torneira 1 minuto poupamos 12 litros de água. Se todos o fizermos, poupamos 120 milhões de litros por minuto”, pode ler-se no anúncio, publicado nos jornais generalistas. “Não controlamos o tempo que faz, mas podemos controlar o que fazemos com o tempo”, alerta ainda a campanha conjunta do Governo, da Águas e Portugal, da Agência Portuguesa do Ambiente e da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR).

Fontes desligadas e regas limitadas

Vários municípios do país desligaram as fontes, incluindo Lisboa. O município liderado por Fernando Medina anunciou que vai desligar provisoriamente as fontes ornamentais da cidade que usem água da rede, como as fontes da Praça do Império (Belém, da Alameda e a cascata do Parque das Nações. “Serão desligadas todas as que não usem apenas água circulável”, assegurou o autarca.

Também no Alentejo será adotada a mesma medida. Nas zonas de Alcácer do Sal, Aljustrel, Alvito, Ferreira do Alentejo, Grândola, Santiago do Cacém, Sines, Viana do Alentejo, Almodôvar, Castro Verde, Redondo, Alandroal, Arraiolos, Arronches e Borba, as autarquias vão desligar as fontes decorativas.

A Câmara de Lisboa vai também interromper a rega em espaços verdes junto a grandes vias, como a 2ª Circular e a Avenida Lusíada, e reduzir a rega em espaços verdes sob gestão da câmara, até “ao limite de sobrevivência” destes espaços. Haverá ainda racionalização da água nos cemitérios.

Metro de Lisboa reduz água nas lavagens

O Metro de Lisboa também colocou em prática um programa para reduzir o consumo de água e decidiu limitar a limpeza das estações. A limpeza passará a ser feita, exclusivamente, “com recurso a lavadoras mecânicas e a outros meios de lavagem que permitam a reutilização da água, tais como a utilização do balde, esfregona e panos de lavagem”, explicou a empresa, em comunicado.

Já a utilização de água à pressão está suspensa. “Todas as lavagens das estações com recurso a equipamentos que utilizam água à pressão e/ou a lavagem das estações, com recurso à utilização de mangueiras ou utilização de água direta proveniente das bocas de rega das estações, estão suspensas”, pode ainda ler-se no comunicado.

Piscinas de Nelas fechadas

Em Nelas, no distrito de Viseu, a utilização de água foi restringida ao consumo doméstico. O presidente da câmara, José Borges Silva, fala numa “situação de calamidade” na região e pediu medidas “imediatas e duras” para enfrentar o problema.

A câmara de Nelas já encerrou as piscinas municipais cobertas, no dia 1 de novembro, e proibiu a utilização de água da rede pública para regar jardins públicos e privados.

Viseu recebe água de camiões cisterna

No final de outubro, o presidente da Câmara de Viseu anunciou que a cidade tinha água para um mês. Por isso, foi iniciado, a 30 de outubro, um plano inédito de abastecimento de água às populações. 27 camiões cisterna começaram a levar água a quatro concelhos do distrito de Viseu, que dependem da barragem de Fagilde, que conta atualmente com apenas 15% da sua capacidade: Viseu, Mangualde, Nelas e Penalva do Castelo.

Esta solução de emergência, que vai levar 112 cargas diárias à região, tem um custo de 15 mil euros por dia. O prazo desta medida, para já, é indeterminado, e o Governo calcula que esta poderá vir a custar, ao todo, meio milhão de euros.

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