Os sinais da crise profunda e recente

  • Filipe S. Fernandes
  • 10 Agosto 2017

Segundo dados do Banco de Portugal, o crédito vencido de empresas não financeiras atingiu os 30,4% no primeiro trimestre de 2016 e cifrava-se em 25,9% no primeiro trimestre deste ano.

A região do Algarve foi duramente castigada pela crise económica e financeira entre 2008 e 2014, com um aprofundamento da mesma em 2011 quando Portugal teve de recorrer a uma ajuda externa de 78 mil milhões de euros emprestados pelo FMI, Banco Central Europeu e União Europeia.

O autódromo internacional do Algarve ilustra um pouco o último decénio do Algarve em que “a bolha imobiliária, empurrada pela facilidade de crédito, deixou o Algarve a flutuar”, como descreveu Elidério Viegas, presidente da AHETA. Nasceu em plena euforia do crédito como forma de dotar a região com infraestruturas desportivas que ajudassem a combater a sazonalidade e a atrair novos mercados turísticos. Era um projeto imobiliário e turístico de grande ambição. Tinha uma componente imobiliária como o parque industrial, o hotel (Pestana Algarve Race) e apartamentos, além do Autódromo Internacional do Algarve, do Kartódromo Internacional do Algarve e da pista de todo-o-terreno contígua.

Em 2013, a Parkalgar requeria um PER. Em 2017, conta com 12 provas entre as quais o Mundial de Superbikes e o European Le Mans Series. Em junho deste ano surgia a notícia que a Parkalgar esteve em “contactos com vários campeonatos do Mundo, entre os quais o de Fórmula 1, que é obviamente o mais interessante e aliciante” como reconhecia o seu CEO, Pedro Pinheiro.

O último Grande Prémio de F1 em Portugal aconteceu em 1996, no Autódromo do Estoril. Um cenário que exigiria sempre um esforço financeiro considerável por parte dos promotores, nomeadamente para o pagamento do fee. A pista localizada junto de Portimão obteve, em abril deste ano, a homologação máxima por parte da Federação Internacional do Automóvel (FIA), o que lhe permite receber um grande prémio da prova máxima do desporto automóvel.

No Algarve, segundo dados do Banco de Portugal, o crédito vencido de empresas não financeiras era de 10% no terceiro trimestre de 2011, atingiu os 30,4% no primeiro trimestre de 2016 e cifrava-se em 25,9% no primeiro trimestre de 2017. Muitos dos projetos hoteleiros e imobiliários entraram em incumprimento e os bancos colocaram esses ativos em fundos, dando, por exemplo, origem a um grupo hoteleiro — Grupo Nau Hotels & Resorts –, que conta com 11 unidade hoteleiras de luxo, nove das quais no Algarve como são os casos dos empreendimentos de São Rafael, Salgados, Morgado e Salema. Este fundo é gerido pela ECS Capital, presidida por António de Sousa.

Por outro lado, o desemprego, que durante vários anos esteve próximo da sua “taxa natural”, atingiu, num curto período temporal níveis antes impensáveis e regista atualmente valores acima da média nacional. Para os especialistas em desenvolvimento regional “o problema do desemprego é estrutural e tornou-se a principal questão social a ser resolvida”. Os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos ao desemprego, referem uma taxa de 10,6% para o Algarve no primeiro trimestre de 2017 (para uma média nacional de 10,1%), face a 12,2% um ano antes (12,4% no país). No segundo e terceiros trimestres de 2016, a taxa trimestral de desemprego no Algarve caiu para 8,1% e 7,3%, respetivamente, traduzindo a sazonalidade da região turística, subindo novamente para 9,4% no quarto trimestre do ano passado.

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