Por que há tantos portugueses no Luxemburgo? 1.999 euros

O Presidente da República inicia esta terça-feira uma visita de três dias ao país onde mais de 16% da população residente é portuguesa. O que atrai os portugueses ao Luxemburgo?

“Quando um Presidente de Portugal vem ao Luxemburgo, é sempre uma festa”. A acreditar nas palavras do ministro luxemburguês dos Negócios Estrangeiros, Marcelo Rebelo de Sousa prepara-se para ser recebido em festa quando, esta manhã, aterrar no grão-ducado, acompanhado por membros do Governo português.

O Presidente da República vai estar no país até quinta-feira para se encontrar com altos cargos luxemburgueses e participar no programa “Diálogos com a Comunidade”. Depois da Bélgica e do Reino Unido, a terceira edição deste programa vai discutir com a comunidade portuguesa no Luxemburgo assuntos como a tributação do património e fiscal, o ensino do português e igualdade de género.

Quem é esta comunidade? E por que escolhem o Luxemburgo?

Mais de 92 mil cidadãos de nacionalidade portuguesa vivem no Luxemburgo, o que equivale a mais de 16% da população residente no país. Para além destes, há que contar com a segunda e terceira gerações de portugueses. Desde 2013 que o Luxemburgo tem caído entre as escolhas dos emigrantes portugueses, mas, todos os anos, mais de 3.500 portugueses continuam a emigrar para lá. Apenas 4% da população portuguesa no Luxemburgo tem o ensino superior completo — um número que começa a aumentar, com a nova vaga de emigração qualificada. Condições financeiras, apoios do Estado e boas perspetivas de futuro ajudam a que a comunidade se mantenha por lá.

“Em pouco tempo, as pessoas conseguem ter uma estabilidade financeira positiva e, consequentemente, uma vida emocional estável. Conseguem dar uma vida bem melhor aos filhos e ter uma perspetiva de futuro bem melhor”, diz ao ECO Soraya Monteiro, que viveu no Luxemburgo entre 2007 e 2014, e onde começou a trabalhar aos 15 anos.

Começando pela “estabilidade financeira positiva”. O Luxemburgo é um dos países com menor taxa de desemprego na Europa, a rondar os 6%, e paga o salário mínimo mais elevado da União Europeia: 1.999 euros. É um cenário bem diferente do que se encontra em Portugal, onde a taxa de desemprego está nos 10% e o salário mínimo nacional é de 557 euros.

Luxemburgo tem o salário mínimo mais alto da União Europeia

Fonte: Eurostat. Dados relativos a 1 de janeiro de 2017. O salário mínimo nacional em Portugal é de 557 euros. O gabinete de estatísticas contabiliza os subsídios de férias e de Natal.

Em contrapartida, o Luxemburgo tem um custo de vida bem mais elevado. A renda de um apartamento com um quarto no centro da capital custa uma média de 1.300 euros, baixando para perto de 1.000 euros fora do centro. Isto quando o salário médio praticado no país ronda os 2.700 euros.

Para fazer face a esta situação, o Governo luxemburguês concede, desde janeiro de 2016, um subsídio de renda de até 300 euros a famílias com baixos rendimentos. Este ano, os critérios de acesso a este subsídio vão ser reavaliados e o limite mínimo de rendimentos poderá baixar.

Já as contas de eletricidade, aquecimento e água ultrapassam os 200 euros por mês, num apartamento com 85 metros quadrados, enquanto um passe mensal custa 25 euros. A comunidade portuguesa é uma das mais afetadas por estes custos elevados. Em 2015, os emigrantes portugueses foram os que mais recorreram às cantinas sociais da associação “Stëmm vun der Strooss” (“Voz da Rua”), que serve refeições a sem-abrigo e pessoas em situação precária.

Ainda assim, o retrato da segunda e terceira gerações de portugueses a viver no Luxemburgo está a mudar e a comunidade está a tornar-se mais qualificada. “A maioria das pessoas veio sem nada e trabalhava na construção, mas, hoje, a segunda e terceira gerações trabalham também nos serviços, nos bancos, nos seguros”, o que mostra que a integração é “um grande sucesso”, dizia, há um ano, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo.

“São poucos os que não seguem estudos superiores, porque há uma ajuda do Estado para todos os estudantes”, lembra Soraya Monteiro, que pinta um país acolhedor para os jovens. No país onde “o clima não permite ter uma vida social ativa”, onde “tudo fecha cedo” e onde “a juventude não tem muito para fazer”, é “normal os estudantes trabalharem, porque ganha-se bem e porque os estudantes não descontam para o Estado”. A diferença em relação a Portugal? “Sobretudo, os salários, que permitem aos estudantes terem dinheiro suficiente para terem uma vida mais autónoma, e os horários, que são vantajosos para quem estuda”.

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