O português trabalha muito, estudou pouco e ganha menos

  • Marta Santos Silva
  • 3 Maio 2017

É a fotografia do trabalhador português comparado com os colegas europeus: trabalha muito mais horas, estuda menos, e ganha perto de metade do salário da média europeia.

O trabalhador português foi retratado este Primeiro de Maio pelo Instituto Nacional de Estatística numa compilação de dados que vão desde quantos trabalham a full time e part time até à idade média do trabalhador passando pela sua remuneração mensal e pelo sexo. O ECO já lhe resumiu os pontos principais desta fotografia estatística, mas fique agora a conhecer três das comparações menos favoráveis com o resto da Europa — o trabalhador português, comparado com os seus colegas europeus, trabalha mais horas mas recebe cerca de metade, e o seu nível de escolaridade é também ele inferior à média.

Quanto estudou? Muito menos

Quase metade da população ativa portuguesa tem no máximo o correspondente ao 9.º ano, revela o INE, uma comparação muito desfavorável face à realidade europeia. Cerca de um quarto dos trabalhadores portugueses completou uma educação superior, o que embora fique abaixo da média europeia mostra uma recuperação grande desde 1998, compara o INE, altura em que só 8,7% da população ativa estava nesse nível. E essa recuperação é evidente noutros valores. Em 1998, quase 10% da população ativa não tinha completado qualquer nível de escolaridade. Atualmente, essas pessoas constituem menos de 2% do total.

Apesar das melhorias, Portugal continua na cauda. O país está em quinto a partir do fim na proporção da população ativa, dos 15 aos 74 anos, que tem o ensino superior: só 24,3%. A média europeia atual é de 32%.

População ativa com educação superior

Proporção da população ativa dos 15 aos 74 anos que completou o ensino superior, 2015.
Fonte: Eurostat e INE.

Portugal vai ter de se esforçar para cumprir a meta traçada para 2020 na área da escolaridade superior. Espera-se que nesse ano, 40% da população entre os 30 e os 34 anos tenha completado o ensino superior. Em Portugal, a taxa atual estava nos 34,5% em 2016, “pelo que terá de aumentar 5,4 pontos percentuais até 2020 para que o país cumpra a meta estabelecida”, alerta o INE.

Quanto ganha? Muito menos

O trabalhador médio português recebe, por ano, pouco mais de metade do vencimento anual médio da União Europeia. Com valores de 2014, o INE representa com clareza esta disparidade: se em Portugal o ganho médio anual, corrigido para o poder de compra, é de 21.156 euros, comparemos este valor com a média: 33 774 euros. O vencimento médio anual em Portugal representa apenas 62,2% da média europeia, estando perto do fundo da tabela comparado com os parceiros europeus.

Vencimento anual médio de cada trabalhador

Ganho médio anual (bruto) dos trabalhadores por conta de outrem, 2014.
Fonte: INE e Eurostat.

Em Paridade de Poder de Compra Padrão, que ajusta os salários de acordo com o poder de compra em cada país, o ganho anual bruto dos trabalhadores portugueses é, mesmo assim, marcadamente diferente do dos luxemburgueses, por exemplo, que podem contar com quase 49 mil euros anuais.

Isto significa que os empregadores em Portugal pagam mais ou menos metade por cada hora trabalhada pelos empregados a conta de outrem a tempo completo: o custo de uma hora de trabalho é de 13,7 euros em Portugal. A média da União Europeia? É de 25,4 euros.

Quantas horas trabalha? Muito mais

Portugal é o quarto: embora não consiga ultrapassar a Grécia, o Reino Unido e a Áustria, o português trabalha em média 42 horas semanais, com 12,7% das pessoas a trabalhar mais de 50 horas por semana. Estas jornadas longas são mais frequentes entre os trabalhadores por conta própria, onde 37,6% trabalhavam mais de 50 horas semanais.

Em quarto lugar na tabela da maior duração da semana de trabalho, Portugal fica assim com mais uma hora do que a média europeia, mas muito acima da Dinamarca, o país onde se trabalham menos horas: 39 por semana.

Horas de trabalho por semana

Duração semanal habitual de trabalho dos empregados a tempo completo, 2015.
Fonte: INE e Eurostat.

No entanto, é importante tomar estes dados em conta com a produtividade por hora de trabalho, que em Portugal tende a ser baixa, comparativamente com países como o Luxemburgo, a Irlanda, a Dinamarca ou a Alemanha que aparecem consistentemente no topo do ranking. Muitas horas passadas no local de trabalho não quer dizer que se produza muita riqueza e podem, na verdade, representar o contrário.

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