Leonardo Da Vinci: um génio no Porto

São mais de 64 invenções de Leonardo Da Vinci que estão expostas na Alfândega do Porto. O ECO faz-lhe uma visita guiada pela mão da diretora da exposição, Paula Paz Dias.

A maior exposição sobre a vida e a obra de Leonardo da Vinci está patente na Alfândega do Porto. A mostra interativa e itinerante – passou pelas grandes capitais de todo o mundo- foi conceitualizada e desenvolvida por um núcleo de artistas italianas a partir dos famosos manuscritos de Leonardo Da Vinci.

Na Alfândega do Porto estão patentes 64 invenções – de áreas tão díspares como a pintura, a engenharia, física, arquitetura, música, entre outras que foram construídas usando detalhes precisos do espólio de Leonardo. Além dos modelos em exibição, que os visitantes podem experimentar, são disponibilizados materiais pedagógicos para todas as idades. A exposição está patente ao público até 31 de julho e tem como comissário o arquiteto Eduardo Souto Moura.

O ECO desafiou a diretora da exposição Paula Paz Dias para uma visita guiada ao longo dos dois mil metros quadrados da mostra.

Rui Moreira acompanhado pela diretora da exposição sobre Leonardo Da Vinci e pelo comissário da exposição, Souto Moura.

 

O Renascimento

Leonardo da Vinci que nasceu a 15 de abril de 1452, nascido em Itália, foi um polímata do Renascimento.

Paula Paz Dias diz que “a exposição começa com uma introdução para contextualizar o tempo de Leonardo, o Renascimento. A ideia é transmitir a ideia de que Leonardo seria um homem do seu tempo, embora estivesse muito à frente do seu tempo, nas artes, nas ciências, na arquitetura, na engenharia”.

“O homem no centro do universo é uma ideia que Leonardo tem muito presente, como o demonstra o “homem Vitruviano” com as suas proporções perfeitas”,refere.

Sobre o local escolhido para a exposição Paula Paz Dias adianta que “este edifício é datado do séc. XIX, mas estas furnas são completamente Renascentistas. Aliás, o arquiteto Souto Moura, assim que lhe mostrei o projeto da exposição disse-me: “isto foi feito para as furnas”. De fato acaba por funcionar muito bem aqui, pois tudo o que se vê aqui é funcional, o sistema de drenagem que impelia a água para o rio, impedindo as cheias. Ou seja, há uma grande simbiose entre as invenções de Leonardo e o edifício em si”.

"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”

Leonardo Da Vinci

O Voo

O sonho de voar foi perseguido por Leonardo Da Vinci de forma perseverante. Ao longo de mais de 20 anos estudou o tema englobando a dinâmica de fluidos, a anatomia humana, engenharia mecânica e anatomia dos pássaros. Com gosto pela experimentação e muita fantasia, inventou as mais diversas máquinas de voar.

Parafuso aéreo

 

Na exposição está patente um “parafuso aéreo” que mais não era do que um parafuso de viragem rápida, de base circular, pensado para a ocupação de quatro homens que tinham como função empurrar uma barra unida ao eixo central do mecanismo. Possuía asas que giravam e produziam uma força de elevação. Apesar de nunca ter chegado a levantar voo, esta máquina é considerada a antecessora do helicóptero moderno.

Paula Paz Dias diz que “é impressionante que, há 500 anos, tenham sido desenvolvidos tantos estudos de coisas com um aspeto tão atual. E é assim com esta antecessor do helicóptero e com o pará-quedas, do qual também temos o esboço. Leonardo acreditava que era possível saltar de qualquer altura e chegar ileso ao chão”.

Música

A exposição segue agora para o legado de Leonardo na música. O génio também era músico e deixou vários desenhos de instrumentos e efetuou melhorias em mais de trinta instrumentos populares.

Uma das obras expostas é o tambor mecânico. Durante os séculos XV e XVI os tambores eram usados sobretudo para tocar marchas militares e para entreter convidados da corte. O desenho de Leonardo incluía um tambor montado na retaguarda de uma carroça móvel. O tambor dispunha ainda de cinco martelos na lateral ligados a um sistema de engrenagem que faz com que os martelos batam no instrumento à medida que a carroça se movimenta.

A diretora da exposição recorda que “os instrumentos de Leonardo tinham mais do que uma utilização e o som deste tambor foi pensado para dar a sensação de que existiam vários tambores, e portanto se estivéssemos a falar de um exército dava a sensação de que este era maior, enganando assim as forças contrárias”.

Pintura

Uma réplica da Mona Lisa- a mais conhecida e enigmática obra de Leonardo Da Vinci

 

Não se sabe quando é que Leonardo Da Vinci começou a pintar, mas a notoriedade do seu talento artístico foi precocemente reconhecida, o que levou o seu pai a enviá-lo para Florença como aprendiz do pintor e escultor Verrochio. A Mona Lisa e a Última Ceia são os expoentes máximos do génio.

“O desenho em Leonardo não é meramente artístico, ele utilizava o desenho como uma forma de estudo”, adianta Paula Paz Dias que acrescenta: “a área da pintura é no fundo para dar um noção de toda a obra do artista, era impossível trazer a Mona Lisa”.

No livro publicado para a exposição “Leonardo Da Vinci- As invenções do génio” pode ler-se que “Leonardo desenvolve a pintura como uma ciência, aplicando os vastos estudos de anatomia e cinética, botânica e zoologia, e até geologia e meteorologia, na procura da perfeição, para o que também aprofundou os estudos sobre o comportamento das luzes e das sombras sobre os corpos geométricos”.

Engenharia civil e arquitetura

Nesta parte da exposição temos exposta a “Cidade Ideal”. E como surgiu a ideia desta “invenção” de Leonardo? A observação mais uma vez esteve presente. Leonardo Da Vinci estava em Milão quando deflagrou, em 1480, uma forte epidemia, devido às más condições sanitárias da cidade.

Paulo Paz Dias diz que “esta maquete que temos aqui é uma cidade interativa, aliás nunca a vi na mesma posição, as pessoas vêm e a cidade muda constantemente”.

Da Vinci idealizou a reconstrução da cidade, tendo por base uma divisão em dois níveis. No primeiro ficariam as casas dos senhores e a circulação dos peões, no piso inferior ficariam as lojas e a circulação de veículos. A “sua cidade” incluía ainda no piso inferior os esgotos. A ideia não teve contudo a aprovação do Duque de Milão.

“Com uma visão muito à frente, Leonardo propunha estradas retilíneas e largas. É incrível a modernidade do homem”, adianta a diretora da exposição.

Aliás, é conhecida uma frase de Leonardo Da Vinci em que adianta que “a largura das ruas tem que corresponder à altura geral das casas”.

Anatomia

Leonardo Da Vinci entendia o corpo humano como uma máquina. Dotado de excecionais poderes de observação a sua abordagem ao conhecimento científico era essencialmente empírica. Para isso praticava a dissecação de cadáveres, o que na altura era uma atividade ilícita. Foi nesses seus estudos, sobretudo a um cadáver centenário, que foi feita a primeira discrição da arteriosclerose. Os seus desenhos anatómicos permaneceram sem rival até ao séc. XVIII.

Paula Paz Dias diz que “havia aqui muitos conceitos que eram completamente medievais como por exemplo o da lágrima esta ligado diretamente ao coração, centro de todos os sentimentos”. E acrescenta: “outro aspeto interessante é que apesar de fazer estas experiências dissecando cadáveres tinha um respeito enorme pela natureza e pelos animais, aliás conta-se que seria essa a razão do seu vegetarianismo.

Física

Segundo a publicação da exposição, “a descoberta dos Códices Madrid em 1967 contribuiu para aumentar o reportório tecnológico leonardino, com a revelação dos elementos mecânicos que desempenham funções primárias, como alavanca, rodas, engrenagens e outras”.

Exposto está um “martelo com anel excêntrico”. Este martelo foi projetado para regular e aumentar a precisão de cada martelada.

Outra das invenções de Leonardo é o escafandro. O génio idealizou um fato de mergulho em couro, que consistia num casaco, calças de bombardeiro e uma máscara com óculos. Além disso, o fato estava equipado com um sistema formado por tubos de cana, colocado na área do nariz para dar ar ao mergulhador.

Engenharia militar

Conselheiro do Duque de Milão muita das “invenções” de Leonardo Da Vinci tem como finalidade a guerra. Desenhou uma panóplia de armas de todos os géneros, fortificações, sistemas de defesa complexos pontes desmontáveis e muito mais. Um dos projetos consistia numa carruagem de foices. Inspirado nos carros de combate romanos, adicionou quatro foices longas e rotativas em cada um dos lados. O único senão é que os cavalos podiam perder o controlo e “ceifar” o próprio exército.

Parte lúdica

As crianças, a quem a exposição também se destinam não são esquecidas, havendo um espaço dedicados às pinturas e onde segundo a diretora “têm sido desenhadas várias Mona Lisas, algumas muito engraçadas”.

 

 

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