CGD: Com taxa abaixo de 10%, bancos tinham bónus de um milhão

  • Rita Atalaia
  • 28 Março 2017

O sindicato bancário que ajudou a CGD na emissão de dívida subordinada recebeu quatro milhões. Mas podia ter recebido mais. Bastava que a taxa tivesse ficado abaixo dos 10%.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi ao mercado para obter 500 milhões de euros através de títulos de dívida subordinada. Registou uma procura elevada, mas os juros também foram… elevados. Desceram face à taxa inicial, mas não tanto quanto o que a CGD, e os bancos colocadores, quereriam. Se a taxa tivesse ficado abaixo de 10% poupava nos juros ao banco de Paulo Macedo, mas dava um bónus de um milhão de euros às cinco instituições financeiras que participaram na operação.

Para colocarem a dívida do banco estatal, tal como acontece em todas as operações que envolvem os mercados financeiros, os bancos cobram uma comissão. No caso das instituição liderada por Paulo Macedo, a escolha recaiu sobre o CaixaBI, o banco de investimento da CGD, Citi, JPMorgan, Barclays e Deutsche Bank que, no seu conjunto, receberam uma comissão equivalente a 0,8% do montante total da emissão, sabe o ECO. Ou seja, quatro milhões de euros.

Esta comissão, que a CGD, contactada, não comentou, ficou em linha com o que é habitual em operações de financiamento no mercado de dívida. A título de exemplo, e tendo em conta que o Estado está neste momento a realizar uma emissão de dívida para o retalho, no caso das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), os bancos recebem uma comissão em torno de 0,75%. No entanto, nesta primeira emissão de dívida subordinada por parte de um banco português, havia um bónus de um milhão de euros. Mas os bancos não o receberam.

Se a taxa tivesse ficado abaixo do patamar de 10%, em vez de quatro milhões os bancos tinham conseguido encaixar cinco milhões de euros. Perderam o bónus… por pouco. A procura elevada levou a taxa a descer face à indicação inicial que colocava o juro que a CGD teria de pagar anualmente entre os 11% e os 11,5%, mas não o suficiente. Perante o volume de ofertas registado — as ofertas terão superado os dois mil milhões de euros –, o juro acabou por encolher, ficando ainda assim num nível elevado: 10,75%.

Nesta emissão, o banco estatal foi ao mercado para obter 500 milhões de euros através de títulos de dívida subordinada, operação realizada no âmbito do programa de recapitalização que vai levar à injeção de 2.500 milhões de euros de dinheiros públicos. Para António Costa, esta operação foi “indiscutivelmente” um “sucesso”. Uma opinião que não é partilhada pelo líder do PSD. Pedro Passos Coelho considerou que país vai pagar “um preço elevadíssimo” pela emissão obrigacionista e acusou o primeiro-ministro de querer “passar a culpa” para o anterior Governo.

O preço a pagar será, realmente, elevado. Por ano, a CGD pagará 53 milhões de euros em juros aos investidores que compraram estes títulos de alto risco — grande parte da operação foi colocada junto de hedge funds, essencialmente do Reino Unido. O valor a pagar por ano é alto, mas ganha ainda maior expressão quando considerado o total dos cinco anos, prazo a partir do qual a CGD pode amortizar antecipadamente estes títulos perpétuos. O custo ascende a perto de 270 milhões de euros em juros.

Este encargo é apenas referente a estes 500 milhões. Mas a CGD ainda vai ter de emitir mais dívida subordinada, ainda no âmbito desta operação de recapitalização. Paulo Macedo vai realizar mais uma operação do género no valor de 430 milhões de euros. Esta emissão terá de ser realizada até 18 meses após a primeira ida ao mercado.

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