DBRS: “A meta de crescimento é otimista e a do défice é ambiciosa”

  • Margarida Peixoto
  • 21 Outubro 2016

A consolidação orçamental e as medidas para fortalecer a banca foram fundamentais para manter o rating a Portugal. Mas o país enfrenta riscos, avisa Adriana Alvarado, em entrevista ao ECO.

Adriana Alvarado é a analista da DBRS que segue de perto a economia portuguesa. Em entrevista ao ECO, explica quais foram os motivos fundamentais para manter esta sexta-feira os títulos de dívida do país em nível de investimento BBB (low) e o outlook inalterado. Contudo, frisa que há riscos: a projeção de crescimento para 2017 volta a ser otimista, defende.

Quais as principais razões para a DBRS ter mantido o rating e o outlook de Portugal?

Apesar do crescimento fraco, confirmamos o outlook estável e o rating porque o défice orçamental continuou a diminuir. E também porque foram adotadas algumas medidas para fortalecer o sistema bancário mais recentemente. No que toca ao défice, a execução orçamental está em linha com o previsto, e esperamos que o défice desça para menos de 3% do PIB, o que é uma conquista importante.

A questão do défice foi crucial para a vossa decisão?

Não. O ponto crucial é a consolidação orçamental e o caminho de consolidação orçamental continuou. O défice orçamental continuou a diminuir. E também as medidas para fortalecer o setor bancário, que devem ser positivas para a confiança no setor.

De entre as seis categorias que avaliam, qual foi aquela em que Portugal teve um melhor desempenho, e em que categoria teve pior desempenho?

É um equilíbrio. Olhamos para as forças e os desafios que a economia enfrenta em cada secção. Temos vários indicadores em cada uma das categorias, por exemplo, na gestão orçamental reconhecemos o ajustamento significativo que Portugal fez desde 2011. Portugal conseguiu um esforço orçamental significativo e o défice continua a diminuir ao longo deste ano. Contudo, também sublinhamos alguns riscos orçamentais.

Como avaliam o atual contexto político?

O contexto político manteve-se estável desde que o Governo assumiu funções e não assistimos a nenhuma tensão política significativa. No entanto, consideramos que há alguns riscos a nível de medidas de política, sobretudo, consenso sobre medidas concretas que o Governo poderá tomar no médio prazo. A aliança entre o Partido Socialista e os partidos de esquerda no Parlamento pode ficar em causa se houver um desacordo grande em políticas internas. Mas no geral, tem sido estável desde que o Governo tomou posse.

Outro problema que sublinham em Portugal é o baixo crescimento, em parte porque o país está sujeito a um contexto externo difícil.

Sim.

Portugal está dependente da melhoria do contexto externo para poder esperar, pelo menos, uma melhoria do outlook?

A economia portuguesa continua dependente do consumo privado para o crescimento. Para o crescimento no próximo ano, o Governo está a contar com as exportações. Contudo, esperamos um crescimento moderado por dois motivos. Primeiro, por causa do contexto externo, no euro, que está menos favorável por causa do Brexit e também por causa das condições políticas de Espanha. Segundo, esperamos um crescimento modesto para o próximo ano porque antecipamos que o investimento seja fraco. Um dos fatores que tem afetado o investimento é a confiança, mas há outros fatores que vão continuar a afetar o investimento, como por exemplo o elevado nível de endividamento empresarial e algumas fragilidades no setor bancário.

Se não houver reformas estruturais ou houver menor ação política para melhorar os rácios orçamentais, o rating pode descer.

Adriana Alvarado

Mas o Governo português pode fazer alguma coisa para acelerar a melhoria do outlook do rating?

Não podemos fazer sugestões, apenas avaliamos o risco. Não traçamos políticas. Contudo, o rating pode subir se a melhoria nas finanças públicas for sustentada e se as perspetivas de crescimento no médio prazo se fortalecerem, o que melhoraria as perspetivas de sustentabilidade da dívida.

A proposta de OE/2017 aumentou a vossa confiança em Portugal? Como avalia a proposta de Orçamento?

Pensamos que as metas orçamentais para o próximo ano são ambiciosas e que a previsão de crescimento é otimista. Mas vemos também que o Governo se comprometeu a manter o ajustamento orçamental.

Considera os objetivos ambiciosos e otimistas?

As previsões de crescimento são otimistas e o défice orçamental é ambicioso.

Comparando com a avaliação de abril, Portugal está mais perto, ou mais longe de ter uma revisão em alta do outlook?

A situação não mudou, é isso que o resultado estável indica.

Mas o outlook está mais longe de ser revisto em baixa, ou não?

Sublinhamos os riscos para o rating. Será uma pressão negativa se houver uma diminuição do compromisso para com as medidas economicamente sustentáveis. Se não houver reformas estruturais ou houver menor ação política para melhorar os rácios orçamentais, o rating pode descer. Se houver uma deterioração da dinâmica da dívida, que pode resultar de um crescimento mais baixo ou de um período prolongado de juros elevados, também.

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