Morreu Mário Soares

  • Ana Luísa Alves
  • 7 Janeiro 2017

Mário Soares faleceu aos 92 anos.

Morreu Mário Soares. O ex-Presidente da República Portuguesa e um dos mais famosos rostos do 25 de abril, acabou por falecer este sábado depois de ter dado entrada no Hospital da Cruz Vermelha no dia 13 de dezembro. Tinha 92 anos. Para trás fica o legado do político, do escritor, e acima de tudo de um dos rostos mais conhecidos da revolução de abril.

Mário Soares morre quase um ano e meio depois de ter perdido a eterna primeira-dama portuguesa, a sua mulher, com quem casou em 1949, quando ainda estava preso. Juntos tiveram dois filhos, Isabel e o João. Maria Barroso Soares morreu após uma queda em casa e um coma profundo de dez dias, em junho de 2015.

epa04179820 Former portuguese President Mario Soares (L) embraces his wife Maria Barroso during the hommage of the 40th anniversary of Carnations Revolution in the Carmo Square, in Lisbon, Portugal, 25 April 2014. The 25 April Revolution, also known as the Carnation Revolution, was leftist military coup d'etat which brought an end to the authoritarian government of the 'Estado Novo', led by Antonio de Oliveira Salazar from 1932 to 1968, when he fell ill. Marcelo Caetano was then appointed head of state until the Carnation Revolution of 25 April 1974, which ushered in democratic reform. EPA/TIAGO PETINGA
Mário Soares com a mulher, Maria Barroso Soares.Tiago Petinga /Lusa

O estado de saúde de Mário Soares estava mais debilitado nos últimos meses, acabando por dar entrada nas urgências do Hospital da Cruz Vermelha na madrugada de terça-feira, dia 13 de dezembro. Ao longo dos dias de internamento foram várias as visitas que recebeu, nomeadamente do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, do Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, entre outros.

A última vez que apareceu em cerimónias públicas foi em julho, no Palácio de São Bento, num evento de comemoração dos 40 anos da tomada de posse do I Governo Constitucional. Francisco Pinto Balsemão recordou, durante a cerimónia, que a PIDE simulou uma carta em que Mário Soares o insultava, falsificando a letra do fundador do Partido Socialista. “A PIDE colaborou com a nossa amizade”, relembrou o fundador do jornal Expresso.

Mário Soares felicita Pinto Balsemão após a cerimónia de atribuição do grau de doutor honoris causa a Francisco Pinto Balsemão, durante anos docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova, e a Daniel Wang, investigador da área da microbiologia, 21 abril 2010, no auditório da Universidade Nova de Lisboa. MANUEL DE ALMEIDA / LUSA. 17:00 - Auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Campus de Campolide
Mário Soares com Francisco Pinto BalsemãoLusa

Pai do Partido Socialista

Mário Soares é considerado um dos “pais” do Partido Socialista, fundado em 1973, e do qual foi o primeiro secretário-geral. Depois do golpe revolucionário, em 1975, desempenhou as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros, e foi com este cargo que levou a cabo algumas negociações para a independência das colónias portuguesas.

Em 1976, nas primeiras eleições a seguir à revolução, Mário Soares consegue a vitória, tornando-se primeiro-ministro. Contudo, face à incapacidade de chegar a acordo com comunistas, o seu Governo foi minoritário. A necessidade de adotar medidas de austeridade, que acabaram por reduzir a sua popularidade, Mário Soares apresentou a demissão em 1978.

Ao ex-Presidente deve-se também a entrada de Portugal na União Europeia, em janeiro de 1986, depois de o então primeiro-ministro ter levado a cabo as negociações para a adesão desde 1977. Soares empenhou-se em alterar a linha de pensamento antieuropeia que dominada o país e tornou os portugueses favoráveis à entrada.

Foi Presidente da República em dois mandatos sucessivos, de 1986 a 1996, ano em que anunciou a sua retirada da vida política, e posteriormente desempenhou as funções de eurodeputado no Parlamento Europeu, entre 1999 e 2004.

No entanto, há dez anos, Mário Soares viu a sua popularidade cair quando decidiu recandidatar-se à Presidência da República, disputando a candidatura com o então amigo Manuel Alegre. Soares avançou para as eleições, provocando uma dispersão dos votos normalmente afetos ao Partido Socialista, mas que nesta situação tiveram de optar por dois candidatos. Cavaco Silva acabou por vencer com mais de 50% dos votos.

 

mario_soares_par_claude_truong-ngoc_1978Uma vida cheia

Mário Soares era filho de João Lopes, conhecido sacerdote e professor, fundador do Colégio Moderno e combatente ativo do regime fascista de António de Oliveira Salazar, e de Elisa Nobre Batista. Foi na capital que nasceu e passou a sua infância e juventude.

Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas e em Direito. No entanto, o seu trajeto foi marcado pela sua atividade em grupos como o Movimento da Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) e o Movimento de Unidade Democrática (MUD). Desde os tempos de estudante que levou a cabo algumas ações políticas contra o Estado Novo, e como advogado defendeu diversos opositores ao regime. As consequências foram, entre outras, ter sido preso 13 vezes pela PIDE e deportado para São Tomé, em 1968.

Depois de ser deportado para São Tomé, Mário Soares exilou-se em Roma, mas foi em França que esteve mais tempo e deu aulas como professor universitário. Ainda assim, anos mais tarde, e devido às perseguições que a polícia política lhe fazia viu-se obrigado, 1971, a refugiar-se em Paris, onde permaneceu até 1974 e deu aulas como professor universitário.

Ao lado de um percurso enquanto político esteve um percurso enquanto escritor, com mais de 30 obras até à data, das quais se destacam: Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga, Escritos Políticos, Portugal Amordaçado, Escritos do Exílio, Portugal’s Sttrugle for Liberty, A Europa Connosco e O Futuro Será o Socialismo Democrático.

Mário Soares fundou ainda uma instituição com o seu nome, sem fins lucrativos e centrada no seu legado. No âmbito desta instituição foram ainda criados a Casa-Museu da Fundação Mário Soares e o Centro Cultural João Soares, ambos em Leiria.

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